Luciana Bessa*
Homenagear a figura materna não é uma exclusividade da sociedade contemporânea. Na Grécia, Reia, a mãe dos deuses, sempre foi celebrada.
O certo é que no século XX, na década de 30, auge da 2ª Geração do Modernismo brasileiro, o então presidente Getúlio Vargas, emitiu o Decreto nº 21.366, em 5 de maio de 1932, ano da conquista do sufrágio universal feminino, instituindo o dia das mães.
Desde o ano de 1932, todo o segundo mês de maio, está sacramentado no calendário dos filhos/das filhas, um café da manhã ou da tarde, um almoço com a mãe, ou mesmo telefonema, ou chamada de vídeo para aqueles (as) que moram longe como eu (há cerca de 530km de distância).
É claro que o comércio não poderia ficar de fora dessa comemoração, pois é conhecida como “uma ótima oportunidade para os negócios”, já que empresários/lojistas a consideram como “o período comercial mais importante da primeira metade do ano”.
Cuidar dos filhos/das filhas, da família, das atividades domésticas (sem remuneração) e trabalhar fora, estar bonita, saudável e desejável para atender os anseios de uma sociedade dos excessos (físico, mental e emocional), que julga e cancela a seu bel-prazer é um desafio que, nem mesmo a Mulher-Maravilha, é capaz de alcançar.
Ser mãe é um desses fenômenos biológicos/divinos que por mais que expliquemos, sempre faltará algo a ser ponderado. É um turbilhão de sentimentos vivenciados numa fração de segundos. É a convivência com uma culpa cultural.
Ou seja, nasce uma mãe, nasce o julgamento público, cuja sentença (se deixa a criança na casa dos avós, ou com a babá; se deixa comer doce, ou deixa comer salgado; se consente que saia com os amigos para uma balada, ou se não consente) é sempre a mesma – culpada. Nasce uma mãe, morre-se a individualidade, os desejos e os solhos de uma mulher.
A sociedade patriarcal determinou a máxima de que o ambiente privado é da mulher, logo, ela é a única responsável pelo cuidado e desenvolvimento dos filhos/das filhas. Tamanha é a sobrecarga e a responsabilidade que ser mãe é uma luta inglória para se reconectar com seus outros eus: filha, amiga, esposa, profissional.
A verdade é que ser mãe é uma das melhores experiências pelas quais uma mulher pode vivenciar, mas convenhamos que não é nada glamoroso como alguns querem fazer parecer. Muitas mulheres não conseguem amamentar, algumas têm depressão pós-parto, outras são demitidas após a licença-maternidade, muitas não têm com quem deixar o bebê para ir trabalhar, o acesso a promoção profissional é limitado etc.
Na ficção, ser mãe é sinônimo de felicidade, de aprendizado, de amor incondicional, de plenitude. Na vida real, ser mãe é um misto de tudo isso, mas é preciso acrescentar: as mudanças no corpo, a exaustão, as dúvidas de como lidar com certas situações, a privação das noites de sono, o adiamento de certos sonhos, a possibilidade de perder as “estribeiras”. Não se esqueçam disso, filhos/filhas!
Sobre a autora:
Luciana Bessa
*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler