Luciana Bessa*
Na semana passada, escrevi um texto para essa coluna intitulado: “Maio, um mês com muitas reflexões”, em que abordava o Dia do Trabalhador e destacava o papel de dois trabalhadores em especial: o escritor e as mães. O primeiro, um lapidador de palavras. As segundas, de pessoas.
Mas assim como mudam-se os tempos e as vontades, também se mudam os nomes dos textos. Por isso, na condição de autora, vou renomeá-lo: “Maio, um mês com muitas reflexões e encontros”.
Justifico. Essa semana fui à Missão Velha acompanhar, de última hora, o projeto “Andanças PET Biblio”, da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Esperava conhecer a Biblioteca Pública do município, mas encontrei algo ainda mais grandioso: o projeto União Popular pela Vida (UPPV), Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos, fundado no dia 23 de março de 1988, coordenado, atualmente, por um ex-aluno, Raimundo Inaldo Alves Araújo.
A UPPV, em parceria com a Sociedade de Assistência à Criança (SOAF), ao longo de trinta e cinco anos, vem desenvolvendo ações socioculturais e educativas junto às crianças, adolescentes, jovens e adultos com a missão de contribuir não só em minimizar a pobreza, e os problemas que permeiam a localidade, mas, sobretudo, forjar sujeitos críticos, participativos, éticos, que lutam pela construção de uma sociedade mais equitativa.
Ao longo de sua existência foram muitas ações desenvolvidas pela UPPV, como o “Projeto Som & Tom”, “Projeto Acorde e Acordes” (desenvolvimento de potencialidades locais), “Projeto Capoeira pela vida” (valorização do sujeito e construção da cidadania), “Projeto Escola Cultural de Dança Popular” (fortalecendo a cultura popular), “Espaços formativos” (ambiente para oficinas com crianças e suas famílias), “Brinquedoteca” (espaço lúdico) “Projeto Biblioteca Caminhante” (incentivo à leitura e a formação de novos leitores), com onze Grupos de Leitura.
Para chegar à Biblioteca da instituição é preciso passar por um portal para se ter acesso a mais de três mil livros, que podem ser registrados no “Passaporte da Leitura”, documento em que é possível anotar as viagens por cada uma das obras lidas.
A leitura nada mais é do que uma viagem que fazemos por um mundo concebido por um escritor / uma escritora. Nele conhecemos personagens capazes de nos despertar as mais diferentes sensações e percepções. Ainda é possível entrar em contato com sua cultura, seus usos e costumes.
É preciso salientar que a Biblioteca da UPPV, para além de fazer empréstimos de livros, realiza rodas de leitura e contação de história. É um espaço de acolhimento aos que chegam em busca de conhecimentos e aventuras, bate-papo para os que gostam de prosear, troca de experiências para os que decidem compartilhar leituras.
O ato de ler possibilita-nos uma voz mais sábia e revestida de legitimidade diante de nossos pares. Fruto dessas leituras dos missãovelhenses nasceu o livro colaborativo Minhas Memórias: Missão Velha (2021), fruto da Lei Aldir Blanc, em que trinta cidadãos (as): simples, anônimos (as) e conhecidos (as), trouxeram à tona suas memórias sobre pessoas já falecidas que marcaram suas vidas. Maio é um desses meses de reflexões e encontros. A UPPV é um desses projetos que eu gostaria que se multiplicasse em cada um dos vinte e oito municípios do Cariri. Raimundo Inaldo Alves Araújo é uma dessas pessoas que nos fazem acreditar no poder de transformação social por meio da Educação e da Cultura. E você, leitor, também acredita? Então, venha conhecer o trabalho do @uppvmissaovelha.
*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler (nordestinadosaler.com.br)