
Alexandre Lucas
O rio passava no meio do asfalto, e as flores ousavam nascer. O tempo era quente; setembro de muriçocas e de calor. As estrelas brotavam dos olhos, enquanto a lua acendia a cachoeira dos poetas. A dança da noite costurava os retalhos de brilho e esperança. Pétalas brancas amaciavam a rigidez do asfalto.
Do megafone, anunciava-se, no pé do ouvido da noite, os versos traquinos de felicidade. Manoel de Barros e Pablo Neruda passaram a madrugada escrevendo inventices e mares de prazer.
— Bom dia — pronunciava a flor, contorcendo-se, esticando os braços como quem quisesse abraçar as nuvens e ninar o mundo.
Absurdo criar versos de ternura para jogar no baú e trancá-los no silêncio. Abram as noites para cultivar as manhãs com pão de coco e beijo doce.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.