Luciana Bessa
A Música, assim como a Literatura, tem o poder de invocar lembranças, despertar sensações várias – alegria, melancolia, prazer – e fazer refletir sobre a condição humana.
Muitas são minhas paixões. Uma delas é a Música. Talvez seja sua habilidade de me acalmar, ou mesmo afastar o turbilhão de pensamentos sobre os infindáveis compromissos do dia a dia. Pode ser ainda o fato de a Música e a Literatura manterem uma relação íntima e complementar, embora não haja equivalência musical para o discurso verbal.
Minha relação com a música-poesia da cantora e compositora Marisa Monte remonta a década de noventa, quando era estudante do curso de Letras. Após minhas leituras obrigatórias do sábado à tarde, escutar a voz de Marisa era sinônimo de liberdade e de bem-estar.
Nascida em 01 de julho de 1967, Marisa Monte é uma artista que já vendeu mais de dez milhões de discos, além de já ter sido agraciada com cinco Grammy Latino, nove Prêmios Multishow de Música Brasileira e seis Prêmios Tim de Música. É a primeira artista feminina brasileira a receber o Prêmio Tenco pelo conjunto de sua obra como cantora e compositora.
O que tudo isso prova? Que existem milhares de outras pessoas que, assim como eu, se emocionam com a voz, as letras e as ideias de uma artista de repertório eclético, para quem “o tempo vai e o vento vem”, que ficou nacionalmente conhecida com a música “Bem que se quis”, tocada exaustivamente pelas rádios, e que fez parte da trilha sonora da novela “O Salvador da Pátria” (1989). Em seu primeiro álbum, MM, sucesso de público e de crítica, uma cantora estreante conseguiu vender mais de quinhentas mil cópias. Como se não bastasse, ele foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil como um dos 100 melhores discos da música brasileira (posição #62).
Com uma voz inconfundível e cantando muitas vezes sobre relações amorosas, não é à toa que Marisa Monte marcaria presença em outras trilhas sonoras de novelas, como: “A Sua, Desejos de Mulher” (2002), “Velha Infância, Mulheres Apaixonadas” (2003), “Infinito Particular, Pé na Jaca” (2006), “Não é Proibido, Três Irmãs” (2008), “Mais Uma Vez, Caras e Bocas” (2009), “Depois, Avenida Brasil” (2012) etc.
No ano 2000, Marisa Monte traz à tona um trabalho centrado no amor: o álbum “Memórias, Crônicas e Declaração de Amor”. Com a colaboração de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, entre outros, o projeto vendeu mais de dois milhões de cópias e foi agraciado com o Disco de Diamante. A música “Amor I Love You” foi a mais tocada nesse ano e ganhou a categoria “Melhor Videoclipe de MPB”, no MTV Vídeo Music Brasil 2000. O amor é uma sonoridade tão forte que a música, tema da novela “Laços de Família”, ainda foi indicada a um Grammy Latino na categoria “Melhor canção brasileira”.
Como não haveria de ser? A voz melodiosa de Marisa Monte com a voz cortante de Arnaldo Antunes recitando um trecho da obra do escritor português Eça de Queiroz (1845- 1900), retirado de um de seus mais emblemáticos romances, O Primo Basílio (1878), “Tinha suspirado/ Tinha beijado o papel devotamente/ Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades…” arrebatou até mesmo os mais céticos dos jurados.
Depois de dez anos de um período de silêncio, uma pandemia (COVID-19), que enlutou o mundo, e que Marisa Monte aprendeu a não brigar com a vida para não perder, sua voz pôde novamente ser escutada com o álbum “Portas”, com participação de velhos amigos conhecidos: Nando Reis, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Seu Jorge.
Marisa Monte, que está aqui de passagem, para quem o “coração é um músculo involuntário e ele pulsa por você”, que ao chegar à madrugada seu pensamento vagueia, que se mostra como é e vai sendo como pode, tem os meus ouvidos atentos para escutá-la nas tardes de sábado. Eu já “Tô com sintomas de saudade” de você.