Luciana Bessa*
Falar sobre a Páscoa é falar sobre uma das mais importantes tradições do Cristianismo. É rememorar a crucificação, morte e ressureição de Jesus Cristo. É justamente a ressureição um dos pilares que move a fé cristã. “Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras”.
Olhando para trás, me lembro da Semana Santa, pelo menos na minha família, como um momento ritualístico. Na quinta, era preciso limpar toda a casa e lavar os cabelos, já que na sexta-feira não seria permitido, assim como estava terminantemente proibido sair para brincar com os colegas na rua, proferir más palavras e brigar com os irmãos. Todos tinham que se sentar à mesa, embora não fizéssemos isso em outros dias, agradecer pela comida, embora não gostássemos de peixe. A parte boa era comer pão de coco e chocolate.
Minha mãe explicava que tudo isso era sinal de respeito a Deus. Confesso que eu e meus irmãos não entendíamos ao certo todo esse ritual que perdurava de quinta-feira à domingo, de um determinado mês e, nos meses seguintes, era completamente diferente.
Outra recordação dessa época era que, geralmente, chovia na sexta-feira santa. Eu ficava no alpendre olhando para o céu durante horas imaginando que eram as lágrimas de Jesus Cristo pelas dores que ele passou para salvar a humanidade, sem saber, que isso não seria possível.
Na minha imaginação de uma menina de dez anos, o nublado da sexta-feira era também uma forma de Deus expressar sua tristeza em relação ao homem, criado à sua imagem e semelhança, mas tão dessemelhante. Isso explicaria, na versão do poeta gauche da literatura, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), por que Deus é triste: “Deus criou triste. / Outra fonte não tem a tristeza do homem”.
Eu cresci com a ideia de que a Páscoa é uma reunião em família em que todos temos que pensar nas ações realizadas por Pai/Filho (Deus/Jesus Cristo) para, assim, repensar nossas atitudes em relação ao mundo. Descobri que nós humanos gostamos de muitos rituais, mas temos poucas ações positivas no decorrer dos dias.
Somos frutos de uma sociedade individualista, em que muitos de nós quer confirmar as expectativas do outro. Uma sociedade marcada pelo cansaço físico e esgotamento mental, pela produção em série de atividades. Quanto mais ocupada eu sou, mais produtiva eu me sinto, mais bem quista eu sou pelos que estão ao meu redor.
O certo é que a Páscoa hoje perdeu seu sentido, ficou pobre de significados mitológicos e religiosos. Muitos estão preocupados com o “famoso almoço de Páscoa”, em que comem, bebem, dormem e, depois, retornam para suas casas com a sensação de dever cumprido. Antes, passaram nos supermercados/lojas para comprar chocolate deixando quantias exorbitantes de dinheiro para grandes empresas. Claro que não esquecemos da foto postada no Instagram: item sagrado. Se esse não é o sentido da Páscoa para você, é sinal de Esperança em dias melhores!
Sobre a autora:
Luciana Bessa
*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler