Alexandre Lucas *
A noite estava perdida. Tentava me encontrar. A lua passou despercebida. Seguia pelas ruas procurando o que não tinha, mas também não sabia definir o que era. Sei que os poetas estavam vivos, as poetas também e o resto tem seu preço.
Na encruzilhada, Maria Padilha! Olho no olho, uma voz mansa, que parecia querer adormecer a noite para se ter bons sonhos. Foi logo dizendo “Me arranja dinheiro pra eu comer, ainda não comi nada hoje”, em seguida complementa acompanhada de um sorriso “ou vamos fazer um programa?”.
Deixo cair um sorriso, enquanto abro a carteira. Troco algumas palavras, me surpreendo com o seu nome, queria esquecer aquele nome, outro sorriso. Sigo o caminho, ando alguns passos e retorno para reencontrar aquela mulher, que carregava um terço tatuado no braço esquerdo e um gatinho na mão direita, algumas cicatrizes nos seus braços. Vestia uma saia combinando com a blusa, um estampado de amarelo e preto, bolsa pequena na cor vermelha e com alças de correntes douradas, sandália baixa com brilhantes. Olhos de sono e cansaço.
Ela também parecia não ter norte. Sentamos na lanchonete mais próxima. Um suco de manga e uma esfirra fechada. Parecia ter uns 25 anos de mal cuidados. Precisava conversar, talvez escutar mais do que falar.
Ela falou da coragem e da necessidade. Trabalhava nas esquinas vendendo a vida e a esperança. Tem um filho de quatro anos, já trabalha há dois, começou aos 17 anos. O filho estava com a tia, a mãe precisa arranjar o pão durante a noite. Existe um sinal fechado para Maria Padilha, porque o sinal aberto é pago.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.