Alexandre Lucas*
A cultura precisa ser percebida como investimento para construção de nova civilidade. Duas questões rementem a essa perspectiva: a primeira é a compreensão de cultura enquanto um projeto de sociedade, no nosso caso, com o recorte de classe, ou seja, que sirva ao processo de emancipação humana da classe trabalhadora. A segunda questão, é que não basta boa intenção, é preciso criar as condições materiais necessárias para que a cultura atinja escalas ampliadas de acessibilidade para as camadas populares, os investimentos em infraestrutura devem promover o direito à cidade como parte do reposicionamento do olhar político, estético, ambiental e educativo para apropriação da diversidade e pluralidade cultural e artística, na confluência entre a contemporaneidade tecnológica e simbólica, com as roupagens históricas e de identidades que vão dando as características das paisagens culturais e sociais dos lugares e territórios.
A política cultural neste contexto precisa se fortalecer enquanto política de Estado. As engenharias jurídicas necessitam ser criadas e consolidadas; os mecanismos de controle e participação social não podem ser meros instrumentos exigidos pela lei, pelo contrário, devem sacudir as estruturas para fazer a esperança avançar e os sonhos se tornarem realidade.
O aspecto jurídico e político é um dos passos importantes no saneamento da política cultural, mas é necessário que a cultura possa caber dentro do orçamento que sirva para construção de uma nova civilidade. Sem as condições materiais não é possível avançar. Os recursos para a cultura precisam estar alinhados com a execução do Planos de Cultura, mas ao mesmo tempo, é preciso desmoronar dentro das estruturas públicas, a política do pão e circo, guiada pela indústria de alienação cultural de massa, a qual esquarteja o orçamento destinado para a cultura.
A cultura, enquanto projeto de sociedade, deve estar na centralidade política e na transversalidade das ações setoriais dos governos, esse deve ser o norte a ser conquistado.
É preciso compreender que a cultura está dentro do aspecto da disputa ideológica e do poder econômico e político. As organizações de cultura que estão vinculadas à classe trabalhadora precisam entrar no game para disputar o comando da sociedade.
Enquanto ficamos ausentes do jogo político, os atrasos e as migalhas serão portas do descompromisso das gestões públicas com a política cultural. Ficar calado não será a sintonia da nossa luta!
No Brasil avançamos na engenharia jurídica, vários marcos legais foram conquistados no campo cultural (Sistemas de Cultura, Planos, Cultura Viva, PNAB, etc.). Agora é a hora de avançar na infraestrutura econômica e politica para potencializar a inovação que a classe trabalhadora necessita no campo cultural.
Sobre o autor:
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Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.