Dina Melo*
Fujo
Tateio no escuro as armas depostas
Tento não desvanecer ante teu grito ameaçador
Às vezes cantas baixinho para iludir-me de que és o melhor
O que deitará aos meus pés heras prateadas
Mas eu já sei que tuas garras estão à espreita
E prontas as cordas com que enlaçarás meu corpo à rocha dura
Sei que a fuga não será definitiva
Me apanharás nas madrugadas frias
Em que meu espírito cansado da luta cederá
Temo que perpetuamente encenemos essa dança odiosa
E minha liberdade seja sempre transitória
Tu esfarelas meus ossos
Atormentas minha carne
Enches de sangue minha boca
Escavas meus dias como impiedosa larva
Assaltas-me na doçura das manhãs com teu hálito de fogo
Meu sangue estremece quando chegas sorrateiro
Exiges de mim submissão completa
Peço-te paz e sossego
Tudo o que tens a me dar é dúvida, insegurança e assombro
Quero correr nua sem tuas pesadas vestes
Sangrar teu nome amargo que adoece minhas entranhas
Apunhalar teu coração infame
Me desvencilhar da tua seiva pegajosa
E rodopiar sem tua sombra absurda sobre minha carne
Quero abrir meus olhos cerrados pelas tuas ameaças insanas
Sonho que nos dias livres de ti
Eu me jogo das janelas
Me espalho como vidros coloridos pelo mundo
Semeio as terras áridas
Deslizo em fogo pelo papel
Poesia
A força do vento
A água que invade os campos
A explosão das estrelas na boca.
Sobre a autora:
Dina Melo
*Amante das árvores, das nuvens, do vento, das águas e do som das palavras. Pés no chão, cabeça nas estrelas, sol em Touro e lua em Gêmeos. Herdou a força e a ligação com a Terra das suas ancestrais Tabajaras da Serra da Ibiapaba. Estudou Direito na UFC e é servidora do TRT Ceará.