
Luciana Bessa
A Literatura Brasileira está caminhando de vento em polpa, embora a última pesquisa Retratos do Brasil (2025) tenha revelado que, pela primeira vez em nossa história, a maioria dos brasileiros (53%) não lê livros.
O brasileiro pode até lê pouco, mas os eventos literários pipocam por todo o país e, claro, ele não deixa de participar e até mesmo de comprar ao menos um livro.
Em abril deste ano, aconteceu em Fortaleza a XV Bienal ( eu estava lá) com o tema “Das fogueiras ao jogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”. Em um Centro de Convenções lotado todos os dias, o público encontrou além de saraus, shows, mesas literárias, 34 editoras, 25 livrarias, 32 distribuidoras e pasmem: 500 lançamentos de obras literárias, entre os dias 4 a 13. Para além de materializar o sonho do(a) autor (a), a chegada de 500 novos livros ao mercado, é a oportunidade de impactar milhares de leitores.
O Rio de Janeiro, que continua lindo, foi eleita a Capital Mundial do Livro. Somos a primeira capital em Língua Portuguesa a receber esse título em virtude da nossa vocação literária e cultural.
Por falar em Cultura, deixa eu fazer um salve para o nosso cinema e a nossa música. Fernanda Torres foi homenageada no Festival Internacional de Cinema de Santa Barbara (SBIFF), pelo filme “Ainda Estou Aqui”. “O Agente Secreto”, do diretor Kléber Mendonça Filho, e atuação magistral de Wagner Moura, garantiu três indicações ao Globo de Ouro, sendo uma delas inédita para o Brasil. Além disso, faz parte da lista dos finalistas pré-indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Escalação de Elenco. Também são semifinalistas: “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, na categoria de Melhor Documentário, e “Amarela”, de André Hayato Saito, em Melhor Curta-Metragem Live-Action.
Há ainda o primeiro Grammy Latino para o cantor João Gomes na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa”, pelo projeto “Dominguinhos” em colaboração com Mestrinho e Jota. Pê.
Voltemos à cidade maravilhosa que este ano, entre os dias 13 a 22 de junho realizou no Centro de Convenções RioCentro, sua Bienal do Livro com a participação de 740 mil pessoas (em 2023 foram 600 mil). 700 editoras, mais de 350 autores, dentre eles Chimamanda Nzogi Adichie, Lynn Painter, Raphael Montes, dentre outros, contribuíram para que o volume de vendas de livros chegasse a 6,8 milhões.
Uma pausa para parabenizar a primeira mulher negra – Ana Maria Gonçalves – autora de Um defeito de cor (2006), que se tornou imortal ao ingressar no seleto grupo da Academia Brasileira de Letras (ABL). A atual ocupante da cadeira 33, e a mais nova entre os (as) acadêmicos (as), conseguiu levar a pluralidade étnico-racial para uma das mais fechadas agremiações literárias do país. Por mais vozes dissidentes na ABL.
E, claro, parabenizar a poeta Adélia Prado, que venceu o Prêmio Camões em 2024, e o recebeu em fevereiro de 2025. A mineira, mais de uma década sem publicar, acaba de lançar O Jardim das Oliveiras, que já está presente na minha lista.
Das 20 obras literárias mais vendidas do ano de 2025, destacamos as brasileiras: Um defeito de cor (2006), ao lado de Tudo é rio (2014), da Carla Madeira, A cabeça do santo (2013), da Socorro Acioli, Jantar Secreto (2016), de Raphael Montes, Canção para ninar menino grande (2018), de Conceição Evaristo e A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector.
Retornando ao Nordeste, em outubro, tivemos a Bienal Internacional do Livro em Pernambuco, com o tema “30 anos em estado de poesia”. O evento contou com a participação de Socorro Acioli, Jeferson Tenório, Micheliny Verunschk, o moçambicano Mia Couto. Sendo a 3ª maior feira de livros do Brasil, exaltou-se o poder da palavra poética, através de vozes como Cida Pedroza, Bell Puã, Josué Limeira, entre outros.
O Cariri não poderia ficar de fora dessa jornada literária. Para celebrar a leitura, a escrita e a cultura local, recebemos pela primeira vez (entre os dias 13 a 15 de outubro), a “Balada Literária Cultural”, criada pelo escritor Marcelino Freire em 2006, em espaços como o CCBNB, Escola de Saberes Daniel Walker, Cantina Zé Ferreira e RFFSA.
Quanto ao Prêmio Jabuti de 2025, para mim, faltou diversidade. As principais categorias, sem surpresa alguma, foram encabeçadas por homens heterossexuais, brancos, do eixo Sul-Sudeste: o livro do ano, O Ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim, ficou com Ruy Castro. Já o melhor romance literário ficou com o cantor Tony Belloto – Vento em setembro. A categoria de contos teve Elimário Cardozo como o ganhador – Dores em salva. Quanto à poesia, obra Respiro,teve como premiado, Armando Freitas Filho.
O que dizer da Literatura Brasileira de 2025? Fez o que sabia fazer de melhor: circulou, convidou os leitores para os espaços, debateu sobre temas engajados, premiou escritores/escritoras que nos entreteram e nos fizeram refletir sobre questões sociais e políticas que nos perpassam.
Sobre a autora:

*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler (nordestinadosaler.com.br)
