Alexandre Lucas*
Escrevo poesia com a faca na língua. Óculos sujos e letras embaraçadas. A borboleta pousa na nas bananas e o carnaval sacode as minhas dores. Larissa fala de poesia e de ternura quando me ler, mas está distante, o capitalismo distancia nossos abraços.
Tenho andado só e descoberto que as ruas estão desertas e que os corações estão cheios de marcas e assaltos, alguns tiros.
Outro dia recebi uma foto da praia: ela estava cheia de sol, enquanto recebia o calor do café numa manhã de sábado, num boteco regado de conversas sobre solidão e arte. A praia estava distante e o celular me atormentava com imagens mentirosas de felicidade.
A médica estava melhor, estava quase podendo dançar e cuidar dos animais. Morava só, aliás com os seus cachorros. Faz tempo que a gente não se encontra, às vezes trocamos algumas palavras.
A enfermeira também está distante, mas mesmo assim lembrou de mandar flores e de fotos do mar. O mar é grande, mas parece vazio.
Val me mandou uma sua tela, uma imagem de mulher com dedos na boca. Val é poeta e carrega seu corpo na palavra. A tela ainda não chegou.
Na quadra as crianças brincam, mas escuto choros.
Amanhã tenho livros para organizar. Hoje, tenho retalhos de histórias, jogados em cima mesa de fitas coloridas, onde divido cafés com alecrim, olhos brilhantes e espalho desaforos.
Sobre o autor:
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*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.