Luciana Bessa
Para a existência de um texto ou de uma obra literária, pressupõe-se necessariamente alguém, um indivíduo, diante de uma folha em branco, com uma pena na mão, ou em tempos de modernidade líquida, na frente do computador, na tentativa de traduzir, em palavras, o que se passa em seu interior.
Eis o escritor. Para isso faz-se necessário que ele ou ela – Clarice Lispector dizia que ao escrever não era homem nem mulher – seja imbuído de competência, domínio da técnica, capacidade imaginativa e criadora, inspiração e talento capazes de produzir obras que atravessem séculos e permanecem imortalizadas no âmago do leitor e do público.
Às vezes, eu costumo imaginar os escritores como antigos navegantes indo em busca de aventura em altos mares. Eles se arriscariam no reino das insubmissas palavras e as encontrariam sob as mais diferentes cores e formatos e tamanhos. Com elas, conviveriam por certo tempo na tentativa de aprender suas fases camaleônicas.
Esse período de convivência seria fundamental para composição de suas emaranhadas narrativas que, mais tarde, seriam apresentadas ao público. O escritor escreve para ser lido, para ser debatido, para ser questionado, para levar o público à reflexão, para causar prazer, gerar pontes e, em muitos casos, para retratar as mazelas sociais. Escrever sob a perspectiva social, para imitá-la ou negá-la, é um método de que se vale o escritor para aproximar a Literatura da realidade circundante. Afinal, estamos falando de alguém que desempenha um papel social.
E quem legitima a obra literária? O público-leitor. O que seria da Literatura, dos autores, de suas criações e criaturas, se não houvesse um público-leitor? A própria existência da Literatura ficaria comprometida, porque não há arte sem público. Os autores produziriam suas obras e essas ficariam esquecidas nas prateleiras ou no fundo de uma gaveta. O livro fechado é como uma casa sem dono. Não apresenta importância nem “utilidade”.
Cada vez, leitor, que estiver diante de um livro saiba que tens à sua frente um desafio e um convite ao mundo das insubmissas palavras. É preciso desvendá-las, já que a leitura pressupõe uma recepção. É justamente o leitor quem assume a função de validá-la.
O escritor exala experiências, valores e desejos. O maior deles é ser lido. Ele espera que a sua criação seja habitada pela presença de um público-leitor. Ele precisa se fazer ouvir. Ele almeja se ver estudado.
O livro sempre é enriquecido pelo público-leitor, porque cada vez que ele o lê, um novo fato é descoberto, um mistério é desvendado. É como se as palavras apresentassem novas conotações, outras roupagens. A leitura e a interpretação nunca são as mesmas. Por isso, “um texto sem leitor é um não texto”. Quer agradar um escritor? Leia-o.
* Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler (nordestinadosaler.com.br)