O mar é violento

Alexandre Lucas

Desesperadamente, escreveu cem cartas de amor. Acabara de conhecer o mar. O mar é imenso, é fundo, é calmo, violento. O mar e o amor já não cabem na mala. O pequeno homem está de passagem: toca a terra, sente a água, brinca com as conchas.

O pequeno homem acredita que o mar está cantando para os seus ouvidos. O vento revolta as águas e faz barulho; o mar não canta. São intervalos de ilusão, enquanto o pequeno homem procura os céus de cabeça enfiada no chão.

Pega as cem cartas e faz barquinhos. O mar derruba as cartas. O pequeno homem, já distante, lê Neruda, que morava de frente para o mar e teve muitos amores.

O pequeno homem escreve novas cartas, mas não aprendeu a nadar, cuida de uma roseira e teme que o mar acabe com o mundo.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.