Shirley Pinheiro*
Estou tentando não me sentir sozinha.
Mas já é a terceira vez que concluo a mesma série essa semana. E tudo parece tão silencioso. Mesmo no mais profundo caos, uma calmaria perturbadora se lança ao meu estômago, emergindo preocupações que se fortalecem como uma espiral, em minha ânsia “engasturada” de não ser mais.
E as ligações tornam-se escassas, enquanto a pressa se expande.
Meu medo era não ouvir mais. Gastar o tempo com obrigações demais. Perder (de vez) as palavras. Mas acharam meu fone de ouvido e agora posso voltar a ouvi-los, enquanto me despedaço pelos quatro cantos da cidade. Pra ser sincera, ontem não foi a primeira vez que quase chorei no meio da rua. Não sei se de dor, cansaço, raiva, medo, saudade ou indignação. Talvez tudo e mais um pouco.
Talvez nada.
Lembro de alguém comentando sobre morar só e quase não ouvi a própria voz. Eu queria não ouvir minha própria voz. Embora os caminhos que escolhi me forcem a falar e a gritar, como quem me escuta, eu também queria não ouvir a minha voz. Mas, longe daquelas carteiras esvaziadas, me preservo em silêncio. Sem partilha, sem memória… Sem tempo, mas com muita vontade.
“Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você”
Que mania chata de tomar todas as dores do mundo! De fazer o trabalho por todos!
De escrever pra quem não sabe ler! E mais uma terça chega ao fim, mas ninguém de verdade assistiu Depois da Meia Noite.
E fora do twitter, The Ballad of the Witches Road faz sentido?
Esse é o problema das vozes. Elas não são ouvidas.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
*Graduada em Letras pela Universidade Regional do Cariri.