Luciana Bessa
Muitos são os significados dos livros na minha vida. De acolhimento à libertação de crenças limitantes, esse objeto capaz de ter impresso em seu corpo palavras, constrói pontes, disseca corpos, aflora desejos e une humanos.
À princípio, os livros me trouxeram alento, porque na infância eu supunha ser sozinha no mundo. Depois, mostraram-me outros universos paralelos, lá, encontrei outros eu(s).
Ao descobrir que não estou (tão) só em uma sociedade que inverte valores, fragmenta sujeitos e apodrece relações, senti-me mais confiante para continuar palmilhando essa estrada pedregosa chamada vida.
Os livros, assim como as águas que descem da cachoeira, têm molhado uma existência marcada por (muitos) desencontros e (poucos) encontros. Se a “literatura é uma saúde”, os livros são o “remédio” para não se deixar despedaçar pela fragilidade das relações humanas.
O Pequeno Príncipe, por exemplo, de Antoine de Saint-Exupéry, ensinou-me dentre tantas coisas, que é possível chorar um pouco, “quando nos deixamos cativar”. Como cativar é andar de mãos dadas com o outro, enquanto caminhamos, derramamos lágrimas. São elas que molham o caminho e nos refrescam de um sol escaldante do Nordeste.
Estou falando isso tudo, porque me lembrei que, hoje, dia 18 de abril, é o Dia Nacional do Livro Infantil, em alusão ao dia do nascimento do escritor Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura brasileira.
É verdade que Lobato não escreveu somente para o público infantil, mas o escrever para crianças o tornou conhecido nacionalmente. Suas personagens – Pedrinho, Emília, Visconde de Sabugosa, Tia Anastácia e Dona Benta – embalaram gerações de anônimas como eu, e não anônimas, como Zélia Gattai, autora de mais quinze obras, dentre elas, Jonas e a sereia (2000). As obras infantis lobatianas nos possibilitam penetrar no mundo da fantasia e do riso fazendo-nos revisitar memórias afetivas.
Um dia desses escutei que Monteiro Lobato era racista, portanto, sua obra deveria ser sumariamente censurada. Mas sou daquelas que compartilho, assim como o poeta gauche Carlos Drummond de Andrade, de que o escritor, assim como qualquer outro homem, não está imune de dizer bobagens e de se equivocar.
Quando isso acontece, cabe ao leitor, ou seja – eu e você – chamar o autor para o debate e para reflexão. Por isso, sugiro que, enquanto Júlio Verne faz sua Viagem ao Centro da Terra, que possamos dialogar com o passado e construir um presente ético e justo, nos aventurar no interior de nós, exalando luz e calor a almas escuras e frias, para lembrar a poesia de Guilherme de Almeida.
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler (nordestinadosaler.com.br)