Alexandre Lucas*
Três de abril de dois e vinte e quatro. Tarde de calor. Encontre-me mais uma vez com ela como faço semanalmente, todas às quartas-feiras. Não tomamos nenhum café, nadinha. Sento no sofá, normalmente com a mão na cabeça como se fizesse um auto cafuné, enquanto isso vou fuxicando da minha vida.
Nesta quarta-feira, estava na expectativa da resposta dela, era previsível, mesmo assim, precisava escutar suas palavras, sua afirmação. A resposta veio. Solto um leve sorriso, de como quem diz eu já sabia. Ela me perguntou como estava me sentindo, de imediato, digo: “Estou feliz” e completo com um choro engasgado. Vou tentando debulhar o que o choro não era capaz de dizer. Ela me escutava mexendo os lábios com os dedos, possivelmente nem tenha percebido. Já não consigo me concentrar só numa coisa, um turbilhão de imagens e inquietações latejam.
Ela tenta me convencer sobre a linguagem do amor, da minha linguagem e é como se tivesse tirando carradas de tormentos da minha cabeça. Começo a enxergar a poesia que crio no atravessamento das calçadas alheias. Talvez as pessoas não estejam preparadas para poética do meu tempero, hora com porções de oito e outras de oitenta. As de oitenta são as melhores.
Despeço-me, rindo. O nosso próximo encontro já está marcado, quarta-feira.
Sair. Resultado em mãos e a vontade esfregar a verdade que sempre afirmei. Duvidaram, duvidaram, duvidaram. Isso doeu, passou rasgando a pele, a alma e o pouco de esperança. Não era invenção de artista, nem esconderijo para o conforto, diziam que era achismo. Achismo!?
Apanhei das palavras e das mãos. Achataram o tamanho dos meus sonhos. Desafiei viver!
São mais de quatro décadas e um resultado que não me define, mas demarca curtos-circuitos, o tempo é outro, os processos são diferentes, de corpo com água à tempestade. A única certeza: neuro divergente, isso não foi opção!
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.