Ludimilla Barreira*
Esperei Laura na calçada, como fazíamos nos dias de férias. Ela estava um pouco atrasada, chegou horas antes da casa da tia, carregando muita bagagem, essas encomendas que os familiares do interior sempre mandam para os que vivem na cidade e precisam relembrar o gosto da infância.
Percebi que ela teria muitas novidades para contar, pois pulou como quem brinca de amarelinha até chegar aonde eu a esperava. Deu vontade de rir daquela felicidade toda. Era interessante o fato de sermos tão amigas, pois éramos o oposto uma da outra. Laura era radiante. Tinha cabelos que brilhavam luminosos na luz do sol, meio bagunçados, mas que não pareciam de menina desleixada. Com aquele sorriso e suas gargalhadas altas, ela conquistava todo mundo, até a minha mãe que era meio desconfiada com todas as pessoas e, principalmente, as minhas amigas.
Eu era tímida. Abria a boca apenas se não tivesse outra forma de me comunicar. Não era de sorrir com frequência; achava que, no geral, as pessoas eram sem graça e menos importantes do que imaginavam ser. Tinha um cabelo lambido, fino e pouco, de um tom castanho que avermelhava no sol. Não gostava de pular, muito menos de brincadeiras com contato corporal. Detesto pessoas pegando em mim. Só de pensar, me dá gastura!
Mas éramos amigas. Nem lembro desde quando, apenas que foi a primeira pessoa com a qual estabeleci um vínculo fora da minha casa. Não contava tudo a ela, pois as nossas vidas eram bem diferentes. Na casa dela, não tinha prato quebrado na parede, e as brigas não pareciam o exorcismo de um demônio. Ela achava que eu vivia melhor, pois estudava em uma escola particular. Mas, na verdade, ela era avoada mesmo, ou apenas inocente.
Achei que a primeira pergunta seria sobre o trote, mas ela apertou meu rosto com as mãos e me chamou para tomar sorvete com banana e doce de leite na casa dela. Ela sabe que amo essa combinação. Me tira até um sorrisinho do canto da boca. Aceitei, e fomos correndo.
Conversamos sobre as férias dela. Afinal, eu não tinha arredado os pés de casa. Estava aparentemente sem novidades para contar e, como tinha o silêncio e o mistério como companheiros, era difícil eu falar espontaneamente. Ela sempre fazia um drama para me forçar a falar.
Foram vinte dias longe. Falou dos passeios, das amigas que ela só encontra nas férias, do primo que ela acha lindo, mas tem medo até de olhar para ele. Me mostrou os presentes que ganhou, as fotografias que a tia dela revelou e o que escreveu no diário enquanto esteve fora.
Não me perguntou sobre a ligação. Foi uma tarde inteira de conversa. Fiquei na dúvida sobre o desinteresse ou esquecimento, mas entendia que, depois de tantos dias com novidades, pouco importava um insignificante contato telefônico.
Algumas vezes, senti aquela ânsia de abrir a boca e tagarelar. Em uma delas, não segurei e, olhando para o telefone da sala, falei. Enquanto ela arregalava os dois olhos e abria cada vez mais a boca, eu apenas ria de boca fechada e balança a cabeça. Que vergonha!
Contei apenas da primeira vez em que liguei, não soltaria o meu único assunto sem um pequeno suspense e em gotas homeopáticas.
Criei coragem para ligar no segundo dia, depois que Laura viajou de férias e fiquei sozinha em casa com meu irmão mais novo. No dia anterior, passei o dia treinando o que falaria. Eu nem tinha costume de conversar, imagina falar com um desconhecido. Treinei a voz e a seriedade das palavras. No final do dia, percebi que não precisava ser a mesma pessoa que todos conheciam. Na verdade, eu poderia ser a pessoa que eu escolhesse e não devia explicações a ninguém.
Sobre a autora:
Ludimilla Barreira
*Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida. Além disso, é bacharel em Direito, especialista em Direito Público, servidora do executivo estadual e defensora da igualdade.