Alexandre Lucas*
Saímos exclusivamente para comprar sorvete. Início de tarde. O almoço tinha sido acompanhado da varanda e das conversas gostosas que não lembramos mais, mas eram gostosas. Os pássaros se revezavam nos fios e nós costuramos as palavras na acolhida da casa.
Ocupamos as ruas. Éramos sol, brilho, calor e a poesia da tarde. Pavê de chocolate. Sorvemos. O sorvete deslizava na boca massageando os olhos. Teus lábios, sua língua e os meus desejos mais profanos estavam costurados com o calor sagrado da tarde.
Reviramos os baús tentando nos encontrar. A tarde é para sorver. Estava me despindo. Minha nudez tocava outros olhares, novas formas de enxergar. Sentia o ritmo que se dançava de olhos fechados. Estava vestido de mim e nu em tuas mãos. Fazia calor e nos sorvemos de luz de aconchego.
Sangrei. Teu lado cuidadoso, lavou a carne, cessou o sangue, se fez cúmplice. O amor pertenceu ao amor. O sorvete tinha mais poesia do que gelo.
A noite veio e com ela o desejo de saborear a lua e cada pedaço da tua companhia dissolvida nos lábios e abraços.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.