Os pratos aguardam

Alexandre Lucas

Cercado de livros e caçando palavras. A ponta dos dedos acariciava as páginas como quem queria tocar os lábios, sentir a natureza da carne, desvendar o mistério, descascar as palavras para sentir a nudez passada na língua.

Os livros parecem que ganham saias, algumas justas, outras rodadas. Relaxa, não é sobre os livros, é sobre enigmas e as palavras que se conjugam. O doce que passa pela boca. A maciez da delicadeza. O sorriso que inunda os céus.

Calmas e inquietas, as palavras molham os desejos, tocam fogo na sensatez, transpiram, atravessam os corpos distantes, mordem os lábios. A palavra veste o pecado e se apropria do fruto proibido. Queima de prazer.

Tentação é a palavra despida nas entrelinhas dos limites. Vamos jogando as palavras como quem retira lentamente, cada peça do corpo, sem pressa, como se estivesse recompondo a pintura desgastada, retirando a sujeira do chão esquecido, dançando com os olhos e refazendo caminhos de suspiros.

Calma, ainda, são apenas as palavras gritando prazer, enquanto os pratos aguardam na pia o seu tempo.