Luciana Bessa
Nerina Castelo Branco, escritora piauiense, influenciada pelos poetas concretistas, lançou no ano de 1963, a obra Poesias Modernas, aqui no Ceará, onde veio estudar Direito.
No ano seguinte, em 1964, já em sua terra natal, Teresina, foi editado o volume II de Poesias Modernas, reafirmando que sua produção literária rompe em definitivo com uma poesia academicista.
Depois formou-se em Filosofia, tornou-se professora emérita da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e membro da Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira de nº 35.
A poesia de Nerina Castelo Branco tem como enfoque a essência humana com suas dores ( Poema “Minhas mãos”), seus sonhos (Poema “Salvar os sonhos”) e seus questionamentos (Poema “Reflexões”).
Poesia reflexiva que expõe a sensibilidade da autora sobre temas universais, tempo, vida, morte, Deus, amor, e desperta no leitor, questões sobre si e sobre aquilo que está ao seu redor, como é o caso do poema “Inquietude do homem”: “Por que, meu Deus, / Eu existo, vim ao mundo?…”
Dificilmente encontraremos alguém que já não tenha se perguntado sobre “por que existo?”. Levantar-se todos os dias, cansada ou doente, trabalhar, estudar, cuidar dos entes queridos, reclamar da falta de tempo, do pouco dinheiro e das muitas incertezas está para além dos manuais de que dispomos.
Outras Poesias e Além do Silêncio encontra-se dividida em três partes. A primeira é intitulada “Outras poesias” e foi publicada no ano de 1981. Primeiramente há um texto – Prefácio à 2ª edição de “Outras Poesias e Além do Silêncio” -, de Herculano Moura, em que o escritor aborda a “sensibilidade epidérmica”, a “inspiração viva e latente da escritora”. Logo depois da dedicatória à filha, às amizades e aos amigos de sempre, encontramos um segundo texto – “A natureza em Nerina Castelo Branco”, de autoria de Luiz Gonzaga Pires, que traz o entrelaçamento da “natureza, do amor e da vida” nas canções poemas da autora, que exala o perfume do amor.
Poeta que é poeta rende-se ao sentimento amoroso, afinal, segundo Nerina: “Por que o amor/ É algo que transborda/ E se espalha por todos os/ Caminhos…” Em seguida, nos deparamos com uma espécie de aviso ao leitor: “… ainda são poesias para quem ama e se enternece com a simplicidade” e o trecho de um poema da polonesa Thekla Hohleissen. Só então os poemas são iniciados, a partir do título “Ontem, anos atrás…” composto de vinte e oito textos com um olhar para passado, a exemplo de “Recordação de um passado” e “Recordar”, como um lugar de não pertencimento.
Na segunda parte, “Poemas da hora presente”, encontramos oito textos de natureza transcendental, tais como, “Alados pensamentos”, “Cosmovisão”, “Sonhos”, “O primeiro mistério”, etc
Por fim, “Além do Silêncio”, originalmente publicado em 1994, é iniciado com algumas breves palavras da autora em alusão à segunda edição, no ano de 2014: “Já não são mais puras e simples estas palavras. Falam agora de um mundo mais realístico, mais frio e mais denso”. Em um contexto diferente do original, 1994, nem texto nem autora são mais os mesmos. Novamente encontramos dedicatórias, epígrafes e texto “Apresentação de Além do Silêncio” de autoria de M. Paulo Nunes. Seguem-se trinta e sete poemas. O último, “Além do Silêncio”, o eu lírico é capaz de divisar “a nova vida” e “O amor completo”.
Outras Poesias e Além do Silêncio é uma obra sensível, dorida, que tem na esperança e no sentimento do amor, em sua forma mais plena de existir e nos emocionar.