Alexandre Lucas*
A programação da Expocrato é um retrato da indústria restritiva da cultura de massa e da ausência do Estado enquanto fomentador da democratização da diversidade e pluralidade estética e musical do país, em especial do Nordeste e do Cariri.
A cada ano, o evento contraria o Plano Estadual de Cultura do Ceará, que institui o marco legal, Lei nº 16.026 de 1º de junho de 2016, que em tese deve nortear a política de Estado para cultura, na transversalidade da gestão governamental. Desvincular o Plano Estadual de Cultura dos eventos promovidos pelo Governo do Estado é atentar contra as diretrizes e o planejamento público em que envolve participação social. É prevaricar.
A Expocrato deve ser percebida como instrumento estratégico para o desenvolvimento econômico e social da Região Metropolitana do Cariri. Dinheiro e Cultura devem fazer parte desta estratégia. A atração de recursos para o fortalecimento da economia regional deve ser o horizonte. Uma política predatória de colonização econômica deve ser rejeitada, entretanto, esse é o modus operandi que vem tendo continuidade ao longo dos anos. Grandes empresas extraindo recursos da região e empreendimento locais enfrentando dificuldades para arcar com a locação de espaços com preços elevados.
A gestão deste evento está entregue ao setor privado, por conseguinte, aos interesses privados. O Governo do Estado do Ceará ao entregar a Expocrato a iniciativa privada desconsidera a potência política e a produção das universidades e institutos estaduais e federais da região, desconsidera a ciência, tecnologia e inovação, que de forma direta e indireta dialoga com a temática e o caráter da Expocrato.
A gestão pública pode dar o tom civilizatório, nortear o caminho de ampliação e manutenção de recursos financeiros para a região do Cariri, mas pode fazer o contrário, seguir a receita neoliberal de ausência do Estado. A Expocrato segue esse modelo entreguista!
As culturas não são apenas entretenimento, muito menos palco de imparcialidade. Existe uma profundidade entre a cultura, enquanto mecanismo de disseminação de valores ideológicos e a sua relação/conflito com o capital. A programação da Expocrato consegue ser fiel inquestionavelmente aos interesses do mercado, conseguindo restringir, excluir, abafar, silenciar e oferecer migalhas à produção musical da região.
Essa programação desconsidera a diversidade, pluralidade e afirmação das identidades estéticas e musicais do Cariri e do Nordeste. É uma programação para paredão, para o copiar e colar, para o mais do mesmo. Quais os critérios republicanos para escolha das atrações musicais? Mercado, possivelmente seja a resposta.
O palco de escala para o grande público é a não a afirmação das nossas identidades e pluralidades, é o apagamento do hibridismo estético e da mesclagem entre territórios musicais. A produção musical da região fica fora da escala de longo alcance, alguns chegam lá em condições adversas.
Os palcos paralelos são pisoteados pela gestão da Expocrato. O Palco Sonoro da URCA, O Palco Mestre Eloi e o da Prefeitura do Crato são demonstrações das condições inadequadas e do escanteamento da produção da tradição popular e da musicalidade tocada no Cariri.
O formato da Expocrato não é inclusivo, muito menos tem caráter republicano e democrático, tem a face do coronelismo contemporâneo e do neoliberalismo como porteira.
É preciso colocar a gestão da Expocrato na pauta republicana e garantir mecanismos de controle e participação social e uma governança composta pelo conjunto de instituições que pesquisam e apontam caminhos para o desenvolvimento da Região Metropolitana do Cariri.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.