Ludimilla Barreira*
Hoje, senti um grande incômodo ao me perceber ameaçada pela presença de outra mulher. Logo eu, que sinto tanto conforto ao encorajar outras mulheres. Senti vergonha do que deixei amadurecer dentro de mim. Sei que não é novidade essa sensação de uma possível perda de espaço ou protagonismo nos ambientes que domino. Por isso, nem posso me defender alegando que foi um lapso, pois já passei por esse dilema outras vezes.
Sim, orbito entre sentimentos: a felicidade de compartilhar momentos com outra mulher, me abrindo para conhecer outra pessoa, mas, no fundo, com uma vontade de ser única e não dividir nada. Felizmente, já consigo ter clareza sobre o que realmente acontece nos momentos em que vacilo com esse mal-estar. Tenho consciência da minha necessidade de reconstruir entendimentos que parecem naturais, de abafar essa insegurança para que ela não tenha vez, mas não é uma tarefa fácil.
Pergunto-me em que momento tirei a mordaça dessa voz que grita no meu ouvido e me desestabiliza. Percebo que é tão difícil identificar quando isso aconteceu como, da mesma forma, não consigo separar o momento em que me tornei essa que vejo no espelho. Separar as etapas da nossa construção como indivíduo, para reduzir o espaço do que pode causar danos ao nosso redor e a nós mesmos, pode anular outras partes de nós que nos são muito caras.
Por um tempo, identifiquei esse comportamento apenas como uma forma de autodefesa, mas agora tenho o entendimento que nada que se oponha à partilha de afeto pode trazer algum tipo de benefício para os envolvidos. Imagino que como antídoto preciso robustecer a generosidade do meu coração e confiar na minha capacidade em distribuir o acolhimento que para mim sempre é importante receber.
Lembrei-me de vezes em que outras mulheres agiram com essa recusa em me receber, talvez por motivos semelhantes aos meus, que, para todas nós, são injustificáveis devido às agruras que já enfrentamos daqueles que não entendem o que é naturalmente ocupar o lugar da submissão. No fundo, na tentativa de ter uma convivência harmoniosa, me abri e deixei claro que a nossa união era mais importante. No entanto, não há nobreza da minha parte, apenas uma tentativa de me redimir por outros momentos em que talvez tenha feito o mesmo.
Quero acreditar em um mundo em que estejamos todas de mãos dadas, sendo um lugar de conforto e amparo. Possivelmente, não vivenciarei esse momento, mas a gota de água que posso derramar nesse oceano é a minha resistência a essa opressão a qual aprendemos a submetermos umas às outras. Além disso, é proveitoso que eu aprenda a me reconstruir como lugar de apoio para todas as que precisarem, inclusive para mim.
Sobre a autora:
Ludimilla Barreira
*Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida. Além disso, é bacharel em Direito, especialista em Direito Público, servidora do executivo estadual e defensora da igualdade.