Alexandre Lucas*
Amanheci com cem sonetos de amor. As palavras desesperadas. O beijo com gosto de agora. Tuas mãos passageiras fazendo trilhas, descobrindo delicadezas e amolecendo a rocha da vida.
As águas escorriam entre as rochas. Deslizava água e abraço. O rio se fazia sofá. No caminho pedras, carnes, poesia, pedras, carnes, poesia. Nunca só pedras, nunca só carnes. Poesia, mesmo ferindo a carne e revirando pedras.
Bebendo dos teus seios, nutrindo estrelas, o sol era testemunha. O verso se fazia na rocha e o fogo tomava conta da paisagem. A água não apagou o fogo, ele se espalha, no poema e nos vetos. Guardo as chamas para momentos frios e noites ensolaradas.
Mil furacões pela manhã, algumas mordidas, leves assopros e um caldeirão de memórias.
Respira, quatro paredes, a digestão é lenta. Agora você precisa de espaço, da cama vazia, do silêncio das lembranças gostosas. Você pode me ver mapeando suas costas, torneando suas pernas, catando rochas, pode ainda sentir falta, alimentar o fogo do ventre e da poesia. Pode também desaparecer.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.