Alexandre Lucas*
Para colocar a cultura no centro do desenvolvimento do Crato, a nova gestão municipal precisa ir além da boa vontade política. Exige ações concretas, investimentos estratégicos e uma mudança de paradigma que reconheça a cultura como pilar fundamental da cidade.
A Lei Municipal nº 3.799/2021, que institui a Política Municipal de Cultura Viva do Crato, representa um marco fundamental para o reconhecimento e o fortalecimento da cultura de base comunitária na cidade. Os Pontos de Cultura têm importância crucial para o desenvolvimento social, econômico e cultural do município.
Os Pontos de Cultura, entidades e coletivos culturais que desenvolvem e articulam atividades socioculturais em suas comunidades, são muito mais do que meros espaços de produção e difusão artística. Eles se configuram como verdadeiros centros de resistência cultural, onde a criatividade, a diversidade e o protagonismo social se encontram para gerar transformação.
A Política Municipal do Cultura Viva, fruto da articulação dos movimentos sociais, é um exemplo de legislação avançada que merece ser celebrada. No entanto, para que ela cumpra seu papel de promover a cidadania cultural, é preciso que os Pontos de Cultura – espaços de resistência e transformação social – recebam o apoio financeiro necessário. Os valores atualmente destinados a eles são insuficientes e se assemelham a “cachês”, não a fomento.
Os Pontos de Cultura são espaços de experimentação e inovação, onde linguagens artísticas se misturam e novas formas de expressão cultural são exploradas. Eles são celeiros de ideias, onde a cultura popular se encontra com a contemporaneidade, e onde a tradição se renova a cada nova geração.
O Crato se orgulha de ter um grande número de Pontos de Cultura certificados, mas esse potencial corre o risco de se perder caso não haja investimentos consistentes. É preciso reconhecer que esses espaços são muito mais do que centros culturais; são agentes de desenvolvimento social, econômico e turístico, que fortalecem a identidade local e geram oportunidades para as comunidades.
No Crato, os Pontos de Cultura desempenham um papel ainda mais relevante, em um contexto de um município com uma rica história e tradição cultural. Os Pontos de Cultura se destacam como agentes de transformação social, promovendo a inclusão, a cidadania e o desenvolvimento humano. Eles oferecem oportunidades para que crianças, jovens e adultos tenham acesso à cultura, à educação e ao lazer, além de fortalecerem os laços comunitários e promoverem o intercâmbio de saberes e experiências.
Os Pontos de Cultura também se destacam como importantes agentes de desenvolvimento econômico. Ao valorizarem a cultura local e estimularem a criatividade, eles contribuem para a geração de renda e para a criação de novos postos de trabalho. Além disso, eles fortalecem o turismo de base comunitária, atraindo visitantes interessados em conhecer a riqueza cultural do Crato e gerando renda para as comunidades locais.
A Lei Municipal de Cultura Viva do Crato, ao instituir a política de Pontos de Cultura, reconhece a importância estratégica desses espaços para o município. Ao destinar recursos e apoio técnico para a manutenção e o fortalecimento dos Pontos de Cultura, a lei demonstra o compromisso da gestão municipal com a valorização da cultura de base comunitária.
É fundamental que a sociedade cratense abrace a política de Pontos de Cultura e se engaje na luta pela sua implementação. É preciso que os Pontos de Cultura sejam vistos como parceiros estratégicos no desenvolvimento do município, e que recebam o apoio de todos os setores da sociedade.
Acreditamos que os Pontos de Cultura são um dos caminhos mais promissores para o desenvolvimento do Crato. Ao valorizarem a cultura local, estimularem a criatividade e promoverem a inclusão social, eles contribuem para a construção de uma cidade mais justa, diversa, próspera e feliz para todos.
É preciso sair da retórica e investir em ações concretas que fortaleçam os Pontos de Cultura, valorizem a diversidade cultural, promovam a integração entre educação e cultura, e garantam que a cultura seja vista como um direito e um motor de desenvolvimento para o município. Afinal, sem economia para cultura, não se estrutura sonhos.
O I Fórum Municipal Cultura Viva do Crato (CE), realizado em 15/02, evidenciou a força do Movimento Cultura Viva e sua capacidade de diálogo e de propor soluções concretas para o fortalecimento da cultura no município. A principal reivindicação do Fórum foi a ampliação dos recursos destinados à Política Municipal Cultura Viva para R$1 milhão anuais. É um passo necessário para garantir a sustentabilidade e a expansão das iniciativas culturais comunitárias no Crato. Um milhão parece ser uma cifra gigantesca, mas se olhar a proposta do movimento é possível enxergar uma defesa justa, ou seja, um milhão (R$ 1.000.000,00) dividido para 50 Pontos de Cultura custear parte de suas atividades anuais, resulta em R$ 20.000,00 ano, que dividido por 12 meses dará um valor mensal de R$ 1.666,66.
A reivindicação por mais recursos não é apenas uma questão financeira. Ela representa o reconhecimento da importância dos Pontos de Cultura como agentes de transformação social, cultural e econômica no Crato. Esses espaços comunitários são celeiros de criatividade, de resistência cultural e de promoção da cidadania. Ao investir nos Pontos de Cultura, o município investe no desenvolvimento de sua identidade cultural, na geração de renda para as comunidades locais e na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Para além da questão financeira, o Fórum Municipal Cultura Viva aprovou uma série de propostas que visam fortalecer a gestão da política cultural no Crato. A inclusão de um assento do Cultura Viva no Conselho Municipal de Políticas Culturais, a criação de uma Política de Fomento para a Cultura Viva a partir dos Fundos Setoriais, o respeito ao princípio de gestão compartilhada e a construção de uma estratégia intersetorial para o fortalecimento do Cultura Viva são medidas que demonstram a busca por uma gestão mais democrática, participativa e eficiente.
A criação do Plano Municipal de Turismo de Base Comunitária, o edital de fomento para Pontos de Cultura com recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente, a designação de servidores para acompanhamento da Política Municipal Cultura Viva, o subsídio para pagamento de contas de água e luz dos Pontos de Cultura, a criação da Coordenadoria do Cultura Viva e a implementação de bolsas para agentes Cultura Viva são propostas que visam dar mais estrutura e suporte para o desenvolvimento das atividades culturais no município.
A eleição da nova Comissão Cultura Viva com 14 representantes de diferentes Pontos de Cultura é outro passo importante para o fortalecimento do Movimento Cultura Viva. A Comissão terá a responsabilidade de atuar em cogestão com a Secretaria Municipal de Cultura, garantindo que as decisões sejam tomadas de forma dialogada e participativa. A criação do Comitê Gestor da Política Municipal de Cultura Viva, instância colegiada com atribuições normativas, deliberativas, consultivas e fiscalizadoras, é mais um mecanismo que reforça a importância da gestão democrática e transparente da política cultural no Crato.
O Fórum Municipal Cultura Viva do Crato reafirmou o seu papel fundamental na construção de uma cultura mais inclusiva, participativa e estruturada no município. As propostas aprovadas representam um avanço significativo para o fortalecimento da política cultural e para o reconhecimento da importância dos Pontos de Cultura como agentes de transformação social. A nova Comissão Cultura Viva tem o desafio de acompanhar de perto cada etapa desse processo, mobilizando forças e articulando os diferentes setores para garantir o avanço efetivo das propostas aprovadas e o cumprimento dos objetivos traçados pelo movimento.
É fundamental que a gestão municipal esteja aberta ao diálogo e disposta a investir na cultura como um projeto de sociedade civilizatório. A ampliação dos recursos para R$1 milhão anuais, a implementação das propostas aprovadas no Fórum e o respeito à gestão compartilhada são passos essenciais para que a cultura viva do Crato possa florescer e contribuir para a construção de um futuro mais justo, diverso e próspero para todos. Os aliados para essa edificação não são inimigos da gestão municipal, mas cúmplices da democracia. Avancemos juntos!
Sobre o autor:
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*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.