Foto: Prefeitura do Crato.
A prefeitura do Crato gastará R$ 125.000,00 reais com a banda Toca do Vale, que se apresentará no dia 20 de Junho, durante as comemorações dos 259 anos do Município. Em seguida vem o cantor Renno com um cachê de R$ 30.000,00 reais.
O valor exorbitante pago a Toca do Vale e ao cantor Renno é contrastante com a realidade das políticas de fomento e os equipamentos culturais do Crato, pois é maior do que o orçamento destinado à Política Municipal do Cultura Viva do Município, que tem uma rede composta por 37 Pontos de Cultura, sendo 31 certificados pelo Município e 06 pelo Estado.
Um Ponto de Cultura, que promove cidadania cultural, durante todo o ano recebeu R$ 4.000,00 reais. Este valor multiplicado pelos 37 pontos de cultura resulta na quantia de R$ 148.000,00 reais. Sendo assim, sobrariam ainda R$ 7.000,00 reais, em comparação aos valores pagos aos artistas Renno e Toca do Vale. Outro fator preocupante no Crato são os equipamentos culturais que estão fechados ou em condições inadequadas de funcionamento.
Os artistas, bandas e grupos da tradição que participam das comemorações dos 259 anos tem valores bem abaixo do Toca do Vale e Renno. Os valores pagos aos artistas da cidade são equivalentes aos preços pagos por outras instituições culturais como Centro Cultural do Cariri, Sesc e Centro Cultural do Banco do Nordeste, que já fazem ações de fomento durante todo o ano abrangendo várias linguagens artísticas.
A Prefeitura lançou edital para a participação dos grupos do município na abertura da Expocrato no valor total de R$ 52.000,00 reais distribuídos da seguinte forma: 21 grupos da tradição, 4 cantores solos e 4 duplas musicais. Cada grupo da tradição tem em média 20 integrantes. Se esse número foi dividido pelo valor do cachê de R$ 2.000,00, cada brincante receberia cerca de R$ 100,00 reais. Como o tempo médio de preparação e finalização de um cortejo é cerca de quatro horas, a hora paga para um brincante seria de R$ 25,00 reais.
Outra questão polêmica do edital é o caráter restrito para as apresentações musicais. De acordo com o edital, apenas quem canta MPB e tem música autoral pode participar. O valor pago por cada apresentação é de R$ 1.000,00 reais e R$ 1.600,00 reais.
O presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato, Marcos Leonel, que é músico, destaca que diante do discurso da administração pública do Crato de que 2% é uma coisa difícil de pôr em prática devido a condição de distribuição do orçamento, fica difícil de explicar essa postura da Prefeitura ao pagar R$ 125.000,00 reais ao Toca do Vale. O presidente afirma que a gestão municipal deve explicações a população.
A cantora da banda Nazirê Jordânia Martins lamenta: “Nós que fazemos parte de grupos musicais autorais, sobretudo que possuem gêneros musicais diferentes do forró, ficamos tristes quando não somos contemplados a fazer parte da comemoração do aniversário da nossa cidade”. Ela acrescenta que “fica nítido que não se trata da falta de verba ou de planejamento e sim da ausência da valorização das bandas locais que diariamente buscam se profissionalizar e receber reconhecimento principalmente dos governantes da própria cidade”.
O músico Abidoral Jamacaru diz que é muito estranho a situação cultural da cidade quanto aos artistas do município e os de fora. O que acontece é que é há uma discrepância notória de cachês. O músico enfatiza que “a valorização nunca é pela qualidade artística do trabalho, mas sim da mídia e do mercado”. Ele diz que “a cidade precisa priorizar ou ao menos igualar os cachês para haver equilíbrio. Para que não haja a desvalorização do artista local”.
O músico Luiz Carlos Salatiel vê a questão com preocupação. Ele enfatiza que a região do Cariri tem uma diversidade musical esquecida e com uma longa trajetória que vem dando nome e visibilidade cultural à região. O músico diz que “a decisão da prefeitura demonstra a falta de conhecimento da nossa realidade e o total desrespeito por aqueles que cotidianamente constroem a cultura de nossa cidade”.
O setor cultural do Crato tenta desde 2012 a destinação de 2% do orçamento municipal para Cultura. O Prefeito já manteve diálogo com o Movimento pelos 2% para Cultura. O movimento aguarda estudo e proposta que deverá ser apresentada pelas secretarias de Cultura e de Finanças do Município. O movimento vê com desconfiança os posicionamentos do prefeito no tocante à Cultura.