Tay Oliveira*
Quando toca Raul
Eu não decifro mais as letras
revolucionárias que ele queria dizer
Quando toca Raul
Não me dá mais aquela vontade de viver
De sair do trono do meu apartamento
Quando toca Raul
Eu não penso mais em tentar, e tentar outra vez
Porque as tristezas da vida me venceram
Quando toca Raul
Eu penso não ser mais a metamorfose ambulante,
que queria muitas coisas e vivia muitas coisas de uma só vez
para aproveitar a vida melhor
Quando toca Raul
eu sou apenas eu,
sem metamorfoses,
entregue ao trono só esperando a morte chegar
Quando toca Raul
Em dias de chuva, me dá medo,
ela me traz medo, medo dos trovões,
pois eu não tenho mais aquele abraço para me salvar
Quando toca Raul
Eu devia ficar contente, por ter ficado melodias
que me fazem lembrar de momentos bons
Quando toca Raul
Eu devia ficar alegre, ao fechar os olhos e ver
as cordas do violão velho, sendo arranhadas com o solo de Ouro de Tolo.
Mas na verdade, quando toca Raul eu choro
Choro porque me lembro do Maluco Beleza
Cantarolando e dançando
Controlando sua maluquez
E eu perdida na minha lucidez
Tentando acompanhar aquelas danças sem sentido algum.
Ouvindo suas aventuras, e sonhando em viver momentos assim.
Mas quando toca Raul
Eu vejo que não é fácil seguir
Um caminho que eu não escolhi
Antes o grito de toca Raul
Nos bares, nas festas, nas reuniões em família.
Hoje é não, não consigo ouvir Raul.
Em memória ao meu Maluco Beleza
Que vivia as letras do Raul Seixas.
Sobre a autora:
Tay Oliveira
*Graduada em Letras pela Universidade Regional do Cariri (URCA).