Alexandre Lucas*
A mão de vó sobre minha cabeça fazia benzeduras, o jeito que tinha para demonstrar que gostava do neto. Era uma tortura, respirava fundo para sair daquele momento. Gostava de vó e da sua paciência.
Vó, se foi. Gosto de outras mãos, aquelas que não benzem, mas guiam minha cabeça para nadar a língua, mergulhar levemente entre vales e erupções, rodopiar de coração acelerado e sentir a saliva do prazer florindo.
Esqueço do tempo. Tua mão-guia faz com que escreva estações. A noite é curta. Liberto-me com tua mão presa, minha cabeça afundada, tuas pernas procurando caminhar sem destino sobre o colchão. O céu parece que está mais próximo. A boca descansa nos teus terremotos.
No fogo misturo: Malva, eucalipto, cebola branca e açúcar, mexo, remexo, até virar mel. Você composta, parada no balcão, olhar atento, aguarda calmamente o lambedor.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.