Luciana Bessa*
Passei a semana inteira pensando em todas aquelas pessoas que contribuíram para que eu seja a mulher que sou hoje:
1)Preocupada com o meu jardim e não o do meu vizinho;
2) Atenta a situação político/econômica/educacional/climática do meu país;
3) Pessimista-otimista, afinal, a sociedade cobra muito e te dá pouco;
4) Apaixonada pela leitura e pela literatura, ou por qualquer outra coisa que faça vibrar meu coração;
5) Casula, pois ficar comigo mesma “me faz tão bem”;
6) Teimosa, quando acredito que estou certa e, geralmente, estou;
7) Determinada, porque sonho foi feito para ser realizado;
8) Prática já que é preciso descomplicar esse cotidiano feito de montanhas russas;
9) Platônica, embora quisesse ser aristotélica;
10) Leal comigo e com o outro.
Não se preocupem: não se trata de um texto autoelogio. Nem poderia sê-lo. Sou humana! Tudo isso explodiu dentro de mim, porque dia 15 de outubro foi o Dia do Professor (a) instituído no ano de 1963, no Governo de João Goulart. Sou grata a todos esses profissionais que despertaram em mim o desejo pelo conhecimento dentro e fora de sala de aula.
Uns dizem que ser professor (a) é: construir sonhos, moldar futuros, gerar expectativas, compartilhar aprendizados, formar cidadãos atuantes, indicar caminhos, etc. Ser professor (a) é tudo isso e muito mais.
Eu, por exemplo, via meus professores ministrando aulas e ficava apaixonada por todo aquele conhecimento par-ti-lha-do comigo. Imaginava como tanta “coisa bonita” poderia sair da boca de uma pessoa. Supunha o poder que emanava em estar à frente de uma sala de aula. Eis, então, que desejei ser professora e ter em mim um mundo de possibilidades para ofertar ao outro. No meu fantástico mundo de Bob, professores (as) e estudantes em sala de aula, seriam capazes de mudar o mundo.
Como tudo um bônus e muitos ônus, ser professor (a) é palmilhar por uma estrada pedregosa de baixos salários, más condições de trabalho, salas de aula superlotadas, falta de autonomia, jornada dupla/tripla de atividades, desvalorização por uma parcela da sociedade, cobrança excessiva da família por resultados.
Lembre- me de um texto do humorista Jô Soares chamado “O professor está sempre errado!”:
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência;
É velho, está superado!…
Fala em voz alta, vive gritando;
Fala em tom normal, ninguém escuta!…
Dá muita matéria, não tem dó do aluno;
Dá pouca matéria, não prepara os alunos!
Brinca com a turma, é metido a engraçado;
Não brinca com a turma, é um chato!…
O aluno é reprovado, é perseguição;
O aluno é aprovado, deu ‘mole’!…
Há o fato de muitos esperam que o (a) professor (a) seja um super-herói, uma super-heroína que não se cansa, que não adoece, que não tenha problemas pessoais, que saiba todas as respostas na ponta da língua, que não tenha uma opinião política, ideológica ou partidária, que não teça nenhum tipo de comentário sobre temas polêmicos – aborto, drogas, religião. Afinal, o que querem de um (uma) professor (a)?
Fala-se muito em uma Educação plural, diversa e inclusiva, mas na prática muitos docentes não têm formação para lidar com estudantes com algum tipo de deficiência, como atesta o próprio Ministério da Educação (MEC).
Confesso: quando me tornei professora não fazia ideia de nada disso. Eu tinha muitas expectativas, nenhuma experiência e algumas ilusões. Uma delas, por exemplo, é que poderia escolher a obra literária que eu desejasse para trabalhar em sala de aula. Se leio Machado de Assis, Jeferson Tenório, Ignácio de Loyola Brandão, Ziraldo e Ligia Bojunga, nada mais justo que compartilhe com os estudantes. Não é bem assim. Todos os autores citados já sofreram algum tipo censura. A falta de autonomia fragiliza qualquer tentativa de tornar esse mundo melhor. O não apoio da família transforma o processo educacional em uma gangorra em que só um lado tem força.
Sigo não sabendo o que as autoridades competentes, que levantam a bandeira para a Educação, mas que pouco investem em Políticas Públicas para a Educação, esperam dos milhares de professores (as) que estão em sala de aula (muitos estão por vir).
Eu, que devo meu processo de formação a esses profissionais, peço que eles continuem seu trabalho incansável dentro e fora de sala de aula apesar das pedras no meio do caminho. Assim como o poeta é “O lutador” – “Lutar com palavras parece sem fruto. / Não têm carne e sangue…/ Entretanto, luto” (Carlos Drummond de Andrade) – desejo continuar encontrando “professores lutadores”, “professoras lutadoras”. Suas existências são fundamentais!
Sobre a autora:
Luciana Bessa
*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler