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Pontos de Cultura como motor de desenvolvimento para o Crato
Cultura, Política

Pontos de Cultura como motor de desenvolvimento para o Crato

Alexandre Lucas* Para colocar a cultura no centro do desenvolvimento do Crato, a nova gestão municipal precisa ir além da boa vontade política. Exige ações concretas, investimentos estratégicos e uma mudança de paradigma que reconheça a cultura como pilar fundamental da cidade. A Lei Municipal nº 3.799/2021, que institui a Política Municipal de Cultura Viva do Crato, representa um marco fundamental para o reconhecimento e o fortalecimento da cultura de base comunitária na cidade. Os Pontos de Cultura têm   importância crucial para o desenvolvimento social, econômico e cultural do município. Os Pontos de Cultura, entidades e coletivos culturais que desenvolvem e articulam atividades socioculturais em suas comunidades, são muito mais do que meros espaços de produção e ...
Tempos para fazer bolos
Literatura

Tempos para fazer bolos

Alexandre Lucas* Saudade de bolo de cenoura com cobertura de chocolate, isso pode ser um código anunciado meio dia e meio, ou a qualquer momento em que a ausência bate na porta para derrubar. Três dedos de vinho e uma preguiça imensa de ir comprar outra garrafa, a saudade pede vinho. Se possível trocaria a garrafa de vinho por esquecimentos seletivos, deixaria na memória apenas aquilo que não doesse. Mas não quero bolo de cenoura com cobertura de chocolate que me faz mal. Poderia tomar uma garrafa de amnésia para sustentar a realidade, mas elas não existem.  As folhas dançam, nem sempre podem ir com vento. Os bolos acabam. Ainda não acabei o vinho. Os planos para o dia seguinte estão amassados no bolso junto com molho de chaves que não encontram fechaduras. Mas amanhã é se...
Carta para lembrar da verdade
Literatura

Carta para lembrar da verdade

Alexandre Lucas Filho, Ando morrendo de vez em quando. O mundo anda perigoso. A palavra mata mais que fuzil, não é exagero. A palavra ordena a morte e o sepultamento da esperança. O amor à humanidade é contestado. A mentira se espalha mais que a poeira e assim fica difícil de compreender a verdade. Ainda estou vivo e mortinho da Silva. Tenho alguns desaforos para entregar. Preciso acolher os sonhos alheios e os meus, já que os assassinos estão de plantão e vestem a balança da justiça. Filho, algo difícil na vida é tecer a verdade. Minta só quando for para sobreviver, assim como fez a guerrilheira urbana que se tornou presidenta do Brasil, mentiu como ato heroico para salvar vidas, inclusive a sua. Filho, essa conversa de morte é só para reafirmar o desejo de viver e de const...
O rio que nos abraça
Literatura

O rio que nos abraça

Alexandre Lucas O rio assimétrico desenha vaginas no seu percurso. As águas caminham transbordando música. Os pássaros cantam e desaparecem entre as árvores. Mastigo algumas sementes e me cubro de sol e sombra.  Sigo as vaginas do rio. Procuro alguns minutos de silêncio dentro dos barulhos que habitam os meus dias. As águas me atravessam acolhendo os meus passos.  Verde por todos os lados, mas nem tudo é esperança. Nenhuma lasanha por aqui, nem mesmo um simples macarrão. Água na boca.  Talvez tenha que andar mais. Hoje, apenas os desenhos do rio.  A folha desce sendo seu próprio barco nos braços rio.  Molho a cabeça. Escorro entre as pedras e as águas para tentar espatifar os pensamentos petrificados. *Pedagogo e integrante do Coletivo Camaradas....
O Mundo é uma gaiola
Literatura

O Mundo é uma gaiola

Alexandre Lucas  Chove. Os pássaros cantam. Neruda se declara para Matilde, em Cem sonetos de amor, mas o amor não cabe em um livro. Sinto os pingos escorrendo sobre meus braços como se estivesse me conquistando, ritualizando a antessala da selvageria amorosa. O amor seguiu viagem, mas deixou suas malas.  É carnaval e a carne continua valendo, quase nada. Os rostos pintados de alegria, são brilhos inventados, são rios efêmeros. Os pássaros comem manga assustados, com alerta de voar. Matilde já não escuta Neruda, deve ser roseira em algum canto, mas do que roseira.  A gente se divide e se transforma em tantos seres e coisas, que até duvidamos.  Neruda come pão. "Pão que devoro e nasce como luz cada manhã", Matilde pão e luz.  Chove. Neruda esquen...
Os espaços de leitura como estratégia para o ler o mundo
Literatura

Os espaços de leitura como estratégia para o ler o mundo

Alexandre Lucas O direito à literatura é parte integrante da luta pelos direitos humanos, essa é a premissa da defesa do Antonio Cândido no seu manifesto “O Direito à Literatura”, que reflete sobre literatura, a partir das contradições do modo de produção capitalista, em que a aponta o avanço da racionalidade técnica e de domínio sobre a natureza como algo positivo, mas ao mesmo tempo distante de atender as necessidades humanas.  Cândido defende que a sobrevivência física e a integridade espiritual compõem a luta pelos direitos e a dignidade humana.  No sentido amplo, é indissociável nos separar das artes e das literaturas. A produção humana é carregada por símbolos que possibilitam a nossa comunicação, reflexão, entretenimento, ressignificação, instigamento criativo, desco...
A Praça do Gesso e o direito à cidade
Cultura

A Praça do Gesso e o direito à cidade

Alexandre Lucas A luta pelo direito à cidade é o reconhecimento de uma cidade negada, essa é a premissa que movimenta sonhos, retrocessos e conquistas que reconfiguram as paisagens de habitat humano. Na comunidade do Gesso, no Crato-CE, a luta pelo direito à cidade vem sendo pautada como estratégia de integração de uma parte da cidade que historicamente foi excluída do processo de urbanização e humanização. Contextualizar a comunidade é dos caminhos para entender a sua estratificação socioespacial. A localidade foi palco de uma das maiores zonas de prostituição de região sul do Estado do Ceará, que teve origem na década de cinquenta do século passado e durou até o início da década de noventa.   Nas duas últimas décadas e fruto da luta organizada, a paisagem urbana da com...
A borboleta voa com toda a sua fragilidade
Literatura

A borboleta voa com toda a sua fragilidade

Alexandre Lucas Os pássaros cantam. As flores brancas e as rosas amarelas estão desfilando paradas. Escuto baixinho Bob Marley. O sol resolveu fechar suas luzes. Cato fragmentos de saudade e lembro do sonho da última noite, triste: um homem morria torturado, o caminho era resistir aos seus algozes, ficava com a fala entalada, não lembro mais do sonho. Acordei, a boca seca e o coração perfurado. Observo as folhas, elas parecem dançar, mas estão presas ao chão, mesmo assim dançam. Parece que é isso mesmo: sem correntes estamos presos e mesmo acorrentados conseguimos caminhar. A pureza dos acontecimentos é infinitamente mentirosa.  A borboleta voa com toda a sua fragilidade, fica ali entre as flores brancas e próxima das rosas amarelas. Bob Marley se mistura à música de Luiz Cal...
Cultura Viva para além da cidadania e participação social
Cultura

Cultura Viva para além da cidadania e participação social

Alexandre Lucas  Cidadania cultural e participação social são elementos fundantes da Política do Cultura Viva - Pontos de Cultura, como instrumentos de afirmação e ampliação de direitos e composição de uma nova visão de política pública. Iniciada em 2004 e estabelecida dez anos depois como Política de Estado (Lei 13.018/2014, que institui a Política Nacional do Cultura Viva), essa experiência apresenta aspectos que vão para além da democratização do acesso aos bens culturais e a produção artística.  A cidadania cultural como reconhecimento de direitos historicamente negados à maioria da população é ingrediente substancial para análise da realidade concreta e apontamento das demandas sociais. A expressão de cidadania cultural parte da mesma premissa do conceito de democracia...
21 anos e uma roseira vermelha
Literatura

21 anos e uma roseira vermelha

Alexandre Lucas Mais uma carta. Saiu de moda escrever. Continuo escrevendo. A última ditadura militar no país durou 21 anos e as cartas circularam clandestinamente para registrar a história e alimentar as esperanças. Manifestar sempre fez parte das ações humanas, assim como o amor. Ainda era criança, pouco entendia sobre o que escrevia, mas eu escrevia para você, como se quisesse dizer:  estou aqui e quando precisar me coloque nas suas mãos.  Escrevia estando a poucos minutos de distância, já que nossas distâncias nunca foram além dos minutos.  Escrevo como um exercício de presença, como se a cada instante estivesse mais próximo da despedida, racionalmente é essa a composição do tempo.  Guarda as cartas, elas não são um amontoado de palavras, estão im...