Clara é a fogueira
Alexandre Lucas*
Acordei cedo, abri os braços para acolher o vento. Chovia. Olhava para cima, observava a goteira: pingo, pingo e pingo. A água fazia a poeira dançar. O chão encharcado e a coragem de repouso. O rodo escondido atrás da porta permaneceu calado. Tomei banho demorado, enquanto a água escorria pela extensão da casa.
Sentei à mesa. A garrafa estava cheia de chá de camomila, tomei sem pressa, aproveitei para brincar de amassar uma fatia de pão seco e desviar os caminhos das formigas. Os passarinhos que cantam por aqui estão engaiolados.
Estava nua, cabelos molhados, pés descalços. A mesa cheia de farelos e de formigas perdidas. As contas estavam todas pagas, essas que a gente paga com dinheiro, por outro lado, estava coberta de dívidas comigo mesma.
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