Coleciono arrependimentos
Dina Melo*
Faço coleção de arrependimentos, poderia colocá-los todos enfileirados, por ordem cronológica, tamanhos, cores, tipos, densidades.
Penso agora em paredes onde poderia pendurá-los, emoldurados. Talvez uma galeria sem ordem nenhuma, já que estão todos emaranhados no tecido do meu corpo, uns dando vida aos outros.
Seriam eles as obras de arte do meu talento reverso?
Tenho arrependimentos que, a seu tempo, emitiram faíscas brandas, resultados de gestos e palavras soltas no cotidiano, dos quais me envergonhei, mas que foram jogados no porão das quinquilharias, abandonados para serem encobertos pelo pó da desimportância.
Guardo também aqueles que vieram após ações que julguei erradas ou que, ainda que eu pensasse serem acertadas, resvalaram em consequências inesperadas ...