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Voz: um corpo que fala
Literatura

Voz: um corpo que fala

Luciana Bessa Não sei vocês, mas durante anos eu julguei a minha voz feia. Já fui uma dessas pessoas que entrava e saia de um espaço calada. Justificava para mim mesma que estava aprendendo mais ouvindo do que falando. O que não é de todo mentira. Em uma sociedade em que todos têm algo importante a falar, mas poucos disponíveis para ouvir, apurar os ouvidos foi uma das formas que encontrei para aprender e, claro, me proteger. É que falar é um modo de se expor. Em se expondo, ficamos mais suscetíveis a julgamentos e à vulnerabilidade. Bem, foi isso que pensei durante anos. Afinal, sou de uma geração que foi criada para não responder pai/mãe, para apanhar e não chorar, para não desacatar professores, para não rir alto, para escutar calada a conversa dos mais velhos. Nesta caminha...
Volúpia
Literatura

Volúpia

Maykon Ferreira* É um momento do fluxo da imaginação,Não se descreve, muito menos temdimensão. Se vive várias vezes, masa primeira é marcante, Uns vivem com omarido, namorado ou ficante. Eu vivi com alguém. Nem era…ficante, Era um amante e confidente.Aquele a quem me entreguei aos profundos desejos,Me despertou os meus escondidos sentimentos e pensamentos. Cada minuto foi único e ingular,Tantas sensações, tesões…Me arrepio em lembrar,Tantos toques, palavras e ilusões. Teu beijo é como mel…Doce, agradável e atraente.Tua mão desce pelo meu corpo,Vira e revira a minha mente. Veio junto a dor no corpo,Da alma um enorme prazer.Bem me quer, mal me quer,Eu te digo que te quero. Minha boca diz não,Meu corpo diz sim.Meu coração fica na dúvida,Enfim… me entrego. Sobre o auto...
O homem de blusão preto
Literatura

O homem de blusão preto

Alexandre Lucas* Estava ali pensando no ovo, triângulo, bola, basquete, vôlei e tantas outras coisas que apareceram justamente naquele momento. Olhar atento, na verdade, perdido no horizonte. Minha mão em silêncio, apalpava o seu corpo numa massagem lenta, como se tivesse cuidado com as feridas abertas que só a alma podia enxergar. Ele se mantinha em águas salgadas, corpo encolhido, cabeça em direção aos pés, enquanto, firme, acolhia o seu corpo e passeava minhas mãos. Sua cabeça próxima aos meus seios era apenas almofada para amortecer a sua dor. Passamos a manhã juntos. Poucas palavras, o silêncio já falava demais. A sala estava movimentada, hora e outra chegava alguém. Ele nem bebeu a água açucarada no copo de alumínio. Apenas, abraçava sem saber os motivos do seu desmanche. Abraç...
Julgada
Literatura

Julgada

Alexandre Lucas O corpo estava desenhado de dor, camuflado entre terra e mato, a pele parecia brotar do chão, a tatuagem dava nome: cova rasa. Era o suficiente sabe disso para revirar os olhos, coçar a cabeça e remoer o estômago. Para alguns isso não era satisfatório, se fazia necessário panfletar a brutalidade, como se estivesse espalhando flores. Não era cinema com violência, mas a violência sem dramaturgia. A mão na cabeça já não pedia consciência. Os gritos desesperados para parar aumentavam a dosagem de selvageria. A faca fez vala como se fizesse rede de pesca. Na arena romana, a festa se fazia da morte dos bichos. Na arena de hoje, os bichos estão salvos, com algumas exceções. O tribunal da morte dava a sua sentença acompanhado de aplausos e filmagens. A vida é real, a...