Sou do Gesso
Alexandre Lucas*
Em cima do morro tinha um muro amarelo, pássaros enormes se reuniam: eram urubus, catando carniça. Esgotos olhando para os céus. Poeira branca da Gipsita. Os trens, os trilhos e o povo dividido. Um horizonte marcado pelo deserto e pelo despossuído. A poesia escondida pela exclusão e o silêncio, mas não foi o povo daqui que pariu os tormentos. Ainda era criança quando percorria essa paisagem e descobria cada pedaço deste lugar e sua gente.
Sou cria da costureira e do sapateiro. Cresci na beira da linha, soltando pipa, correndo nos vagões e subindo num amontoado rochas.
Nada é imutável, nem a terra e muito menos os donos do poder. As coisas por aqui estão mudando, mas ainda não é a revolução. Aos poucos a poesia vai brotando das mãos inquietas que se unem...