Tentei falar
Alexandre Lucas*
Não deu para esquecer a indiferença. Naquele dia não teve festa, nem morte, mas tinha quase 45 anos envolvidos e a descrença alheia. Mentirosa, exagerada, chata e outras coisas que esqueço é vendaval de sinônimos que tatoo na alma. Rostos pálidos e silenciosos capazes de escavar minha cabeça. Faltou brilho, sobrou desvio de olhar.
É como se tivesse nua gritando por socorro e ninguém pudesse escutar. Como se tivesse num país desconhecido em que a minha língua fosse estranha e ainda estivesse invisível.
Precisava dizer para o mundo que fui violada, sem viola e sem verso florido. Homens e mulheres me tocaram com suas palavras de arames farpados. Sentir o roçado de cada palavra nos meus pensamentos: dói, sangra e revolta. Sentir também o peso da mão, da sandália e do ...