Vinho
Shirley Pinheiro*
O primeiro gole escorre pela minha garganta com a promessa de aquecer meu colo. De dentro pra fora, o sangue decora minha pele. O segundo gole é para acostumar o paladar. Um leve formigamento nos ombros denuncia minha falta de costume. O terceiro gole é pelo prazer. A língua saboreando cada mísero contato com o álcool, pelo simples desejo de prolongá-lo. O quarto gole ainda é poesia, enganchada no sorriso que se atreve, em detrimento dos olhos tristes.
Os próximos são disfarces. Minhas veias sangrando pelo desejo de embriagar-se. Um esconderijo ineficaz para o que não é dito. Uma porta escancarada para as lágrimas que se aprisionam.
Se houvesse justiça, tua embriaguez também seria por tristeza. E cada gole também carregaria uma prece. Ah, look at all the lonely p...