Tag: janela

ACERTARAM QUANDO DISSERAM QUE SOU UMA MULHER DE AMORES PLATÔNICOS
Literatura

ACERTARAM QUANDO DISSERAM QUE SOU UMA MULHER DE AMORES PLATÔNICOS

Shirley Pinheiro* Descobri que morávamos na mesma rua, na noite em que caiu a primeira chuva de dezembro. De longe, sua casa, uma construção comum, portas e janelas pouco convidativas, iluminara-se à luz dos faróis que nela adentrava. Até aquele momento, eu já sabia de cor a placa e o modelo do seu carro e pouco me surpreendia o adesivo do Padre Cícero, colado na traseira. Desde então, gastava minhas caminhadas a procurá-la, numa esperança insana de que nossos destinos, tantas vezes generosos, nos proporcionassem um desencontro ao acaso. E eu ainda consigo contar nos dedos, as vezes em que, na pressa do trânsito, tive um vislumbre da tua velocidade. Migalhas para os meus desejos. Banquetes consumados.  Mas ali, com os pingos da chuva se insinuando sobre o meu cabelo e o escur...
Uma criança na janela
Literatura

Uma criança na janela

Dina Melo* Eu adoro janelas, parece que foram feitas pra gente espiar o céu, as nuvens do dia, o escuro da noite, às vezes, as estrelas, às vezes, a lua… Janelas existem pra gente sentar e pensar. Deixar o pensamento correr manso, lembrar da escola, daquele menino com o sorriso bonito, das brincadeiras com as amigas no recreio, quem jogou a bola em quem, pensar nas possibilidades que não aconteceram, no se, nos nossos planos pro futuro do dia seguinte. Sentada na janela o tempo para e tudo é só o instante. Da janela eu vejo a estrada de terra onde o sol brilha e do outro lado papoulas e urucum. Eu gosto de me demorar contemplando as papoulas tão rosas e vermelhas, os filetes com o pólen nas pontas, as folhas verdes e pontudas. Os galhos retorcidos do urucum, onde brincamos de casi...
Segue a viagem
Literatura

Segue a viagem

Alexandre Lucas Domingo, a praia se espalha diante dos olhos, os nervos entram em tempestade. O patuá de Yansã repousa no fundo da bolsa. O coração é espremido, talvez exploda. A mãe mastiga batata, o filho fica quieto, pelos menos por alguns minutos. A moça do lado olha pela janela, as luzes descrevem as estradas. O seu diálogo é curto e desconvidativo. O jovem bebe o seu descanso e recita seus versos de improviso. Recebe aplausos e mais uma dose.  A maioria dorme, enquanto a noite se encurta. Faz escuro, mas o sol nasce pelas manhãs, porém pode chover. Procuro as estrelas, já não estão no céu, muito na bolsa carregada de livros e roupas sujas.  A moça do lado continua calada, suas pernas balançam, parece inquieta.  O ônibus segue viagem, mas circula pel...