ACERTARAM QUANDO DISSERAM QUE SOU UMA MULHER DE AMORES PLATÔNICOS
Shirley Pinheiro*
Descobri que morávamos na mesma rua, na noite em que caiu a primeira chuva de dezembro. De longe, sua casa, uma construção comum, portas e janelas pouco convidativas, iluminara-se à luz dos faróis que nela adentrava. Até aquele momento, eu já sabia de cor a placa e o modelo do seu carro e pouco me surpreendia o adesivo do Padre Cícero, colado na traseira. Desde então, gastava minhas caminhadas a procurá-la, numa esperança insana de que nossos destinos, tantas vezes generosos, nos proporcionassem um desencontro ao acaso.
E eu ainda consigo contar nos dedos, as vezes em que, na pressa do trânsito, tive um vislumbre da tua velocidade. Migalhas para os meus desejos. Banquetes consumados.
Mas ali, com os pingos da chuva se insinuando sobre o meu cabelo e o escur...