Tag: liberdade

No escuro do meu mundo sinto medo
Literatura

No escuro do meu mundo sinto medo

Dina Melo* FujoTateio no escuro as armas depostasTento não desvanecer ante teu grito ameaçadorÀs vezes cantas baixinho para iludir-me de que és o melhorO que deitará aos meus pés heras prateadasMas eu já sei que tuas garras estão à espreitaE prontas as cordas com que enlaçarás meu corpo à rocha duraSei que a fuga não será definitivaMe apanharás nas madrugadas friasEm que meu espírito cansado da luta cederáTemo que perpetuamente encenemos essa dança odiosaE minha liberdade seja sempre transitóriaTu esfarelas meus ossosAtormentas minha carneEnches de sangue minha bocaEscavas meus dias como impiedosa larvaAssaltas-me na doçura das manhãs com teu hálito de fogoMeu sangue estremece quando chegas sorrateiroExiges de mim submissão completaPeço-te paz e sossegoTudo o que tens a me dar é dúvida,...
NO MAIS, UM BRINDE ÀS CONVERSAS ATÉ TARDE DA NOITE!
Literatura

NO MAIS, UM BRINDE ÀS CONVERSAS ATÉ TARDE DA NOITE!

Shirley Pinheiro* “Só por hoje eu não quero mais chorarSó por hoje eu espero conseguirAceitar o que passou o que viráSó por hoje vou me lembrar que sou feliz Hoje já sei que sou tudo que preciso serNão preciso me desculpar e nem te convencerO mundo é radicalNão sei onde estou indoSó sei que não estou perdidoAprendi a viver um dia de cada vez”(Legião Urbana, 1993) Então é Natal… Chegou o fatídico período em que gratidão e melancolia andam agarradinhas, como um casal apocalíptico que chega devastando os corações (e estômagos) solitários e depressivos. A época em que tudo parece feliz demais, e a ansiedade transborda, ao mesmo tempo em que os ciclos se encerram e as memórias ficam mais saudosas e tristes. Poderia um ano, dividido em 366 dias ter sido o seu pior e melhor ano, ou seria...
Acho que já estou com idade para casar
Literatura

Acho que já estou com idade para casar

Shirley Pinheiro* Acho que já estou com idade para casar. Pelo menos é o que têm me dito as pessoas que passam por mim. Algumas eu conheço, outras já ouvi falar, a maioria só sabe que eu sou filha de sicrano, neta de fulana de tal, parenta de não sei quem. Todas com a mesma dúvida: quando é que você vai casar? Sendo bem sincera, é sim uma pergunta que me irrita. Não só pelo caráter invasivo (por que as pessoas se acham no direito de questionar a vida pessoal de alguém que nem conhecem?), mas também pelo caráter opressor (nós mulheres somos constantemente submetidas a essa pergunta, enquanto os homens permanecem isentos). Mas eis que dou meu veredito: não quero casar. E é aí que as coisas ficam divertidas, pois é chegado o momento em que os olhares transmitem a verdade por trás...
Penso, logo tenho liberdade
Literatura

Penso, logo tenho liberdade

Luciana Bessa O dicionário me ensina diferentes palavras para o turbilhão de sentimentos que teimam em existir dentro de mim.  O calendário me mostra como posso desfrutar melhor “um dos deuses mais lindos” e mais temperamentais, o tempo. Neste último acabo por descobrir datas comemorativas que, confesso, me passam despercebidas, como foi o Dia da Liberdade de Pensamento, 14 de julho, em que ocorreu a queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa, em 1789. Aos que esqueceram e/ou ainda não tiveram essa aula de História: a Bastilha era uma prisão, símbolo do Antigo Regime francês. Quando o povo, oprimido até não suportar mais, tomou-a, ele proferiu seu grito de liberdade. Base da existência humana – “Penso, logo existo” – nos diria René Descartes em [seu] O Discurso do Méto...
Aqui nunca foi rosa
Literatura

Aqui nunca foi rosa

Alexandre Lucas* Ainda não decidi a roupa de hoje. Estou de férias e a rotina da folga não foi organizada. Acordei cedo como de costume, mas tomei café mais tarde. Fui cuidar das roseiras que estão todas cheias de botão.  Rosas amarelas, brancas, vermelhas serão paridas. Adoro a delicadeza das pétalas, a maciez da textura, a simetria. Dizem que elas guardam a simbologia da nossa intimidade. Rosas lembram vaginas. Tenho grandes dúvidas. Se tivesse uma rosa ao invés de uma vagina, ela seria intocável para não desfazer a sua fragilidade. Andaria lentamente para não decompor o seu arranjo. Elas têm vida curta. Rosas não suportariam tanta selvageria, tanto vai-e-vem, rodopio, esfregamento, o sugar ou a suavidade de uma massagem assoprada. Minha vagina é resistência. Sagrado e r...