Socorro, a louca
Dina Melo*
Quem anda pela Terra há de pisar em espinhos. Sem dúvidas, Socorro pisou em vários deles. Cresceu louca. E triste. E desamparada. E marginalizada. Injustiçada, maltratada, esquecida, amedrontada.
Ela bateu, apanhou, sua loucura provocou medo nas pessoas, mas ela se assustou também. Ela vagueou muitas vezes pelas estradas, sem destino, deixou-se anoitecer no mato, correu em desatino, olhou pelas frestas das janelas, quis saber o que havia lá dentro.
Será que teve poesia na vida da Socorro? Houve mãos estendidas, carinhos, sussurros, beijos, sonhos?
Alguém a matriculou na escola, comprou cadernos, disse que ela era bonita, que sua pele era macia, arrumou seus cabelos? No colégio, chamaram-na para brincar no recreio, uma menina disse - quero ser sua amiga, vamos pra min...