Tag: Luciana Bessa

O Interesse Humano: um convite ao diálogo
Literatura

O Interesse Humano: um convite ao diálogo

Luciana Bessa Há alguns meses, todas às quartas-feiras, às 19:30h, no Clube do Livro da Nova Acrópole -JN, eu e um grupo de pessoas que acreditam na Filosofia como uma ferramenta de educação que alia teoria e prática aplicada à vida, temos nos dedicado à leitura e ao diálogo do livro O Interesse Humano, do pensador e escritor indiano Nilakanta Sri Ram, que concebia a Natureza da Teosofia (“sabedoria divina”) como uma  sabedoria transformadora, assim como, pregava que há uma unidade por trás da diversidade. A obra é composta por trinta e cinco textos que versam sobre os mais diferentes assuntos: verdade, felicidade, desejo, karma, dharma, inocência, beleza, ilusão, juventude, valores, dentre tantos outros. Ou seja, os leitores são apresentados a um leque de possibilidades temátic...
Duína: uma suíte em silêncio
Literatura

Duína: uma suíte em silêncio

Luciana Bessa Depois de quatro livros de contos publicados, a escritora paraibana Marília Arnauld, em 2012, nos apresenta seu primeiro romance, Suíte de Silêncios, centrado na protagonista Duína Torealba, uma violinista frustrada e entorpecida pela dor de ser e de estar no mundo. O termo suíte pode ser interpretado a partir de duas concepções: 1) quarto com banheiro privativo. Neste espaço, as personagens lambem suas dores. 2) na música, uma sequência de peças instrumentais com a mesma tonalidade, mas com andamentos diferentes que formariam uma composição. A estrada palmilhada é uma sequência de dores vivenciadas pela protagonista. Quanto ao silêncio, ele acontece no exterior das personagens, pai, mãe, filhos, que ao não verbalizarem suas agonias e seus lutos, tornando-se pessoas ens...
Eu e Machado de Assis
Literatura

Eu e Machado de Assis

Luciana Bessa Não me lembro com precisão quando comecei a ler Machado de Assis (1839-1908), mas sei que não gostei. A linguagem rebuscada e o contexto histórico, século XIX, que aludiam suas narrativas, me eram completamente estranhos. Na flor da mocidade, algo me intrigava: todos os teóricos brasileiros que eu encontrava pelo caminho destacavam o brilhantismo de Machado de Assis. Quando descobri que Harold Bloom (1930), crítico de literatura americana, descreveu Machado como “o maior gênio da literatura brasileira do século XIX” e “o maior escritor negro da história da literatura universal, eu disse a mim mesma: “garota, leia Machado de Assis”. Foi o que fiz. Ouvi falar de uma possível traição de Capitu ao marido Bentinho. Resolvi começar a ler Dom Casmurro (1899). Com seus “olho...
Vivemos tempos adoecidos
Literatura

Vivemos tempos adoecidos

Luciana Bessa Tenho escutado há anos, na voz da Maria Gadú, que o “tempo é o compositor dos destinos”, é o “tambor de todos os rirmos”, talvez, por isso tenha se tornado “um dos deuses mais lindos”. Sei que a urgência em entrar num acordo com ele tem sido minha prioridade. A sensação de cansaço se apoderou de mim. Minha cabeça fica girando quando me deito e os pensamentos se concentram em todas as demandas que preciso realizar no dia seguinte. São curtos os prazos. Meu corpo dói desde o momento em que acordo. Sem falar nas constantes dores de cabeça que me esperam ao abrir os olhos. Sinto que depois de trabalhar oito horas por dia me falta fôlego e disposição para realizar meus desejos. Já cheguei a me questionar se não tenho muitos desejos. A sociedade contemporânea está impre...
Coração na aldeia, pés no mundo
Literatura

Coração na aldeia, pés no mundo

Luciana Bessa Lançado em 2018 pela editora UK’A, Coração na aldeia, pés no mundo, da escritora cearense indígena Auritha Tabajara, é uma obra autobiográfica cantada em versos. Contudo, quando a autora traz à tona memórias, percepções e experiências de sua própria vida, ela possibilita que outras mulheres indígenas possam (re)pensar sua própria trajetória.  Sua primeira obra data de 2004, Magistério indígena em versos e poesia, adotada pela Secretaria de Educação do Estado. Em 2020, publicou o folheto Tabajara, toda luta, história e tradição de um povo. A escrita em rimas sempre foi uma das formas que Auritha encontrou para se posicionar no mundo. O cordel é o seu “grito de resistência” para aplacar “suas dores” e as “dores de outras mulheres indígenas” também silenciadas ao longo ...
Limitada musicalmente
Literatura

Limitada musicalmente

Luciana Bessa Sou limitada musicalmente. Sou daquelas que gosto de um estilo, de uma intérprete e fico presa por vontade naquela galáxia musical. Tem coisa melhor do que consumir tudo (ou quase tudo) do que as cantoras que ficam ao lado esquerdo do peito produzem? Quando sou perguntada sobre as vozes que me transpassam, já tenho uma pequena lista na ponta da língua: Maria Bethânia Marisa Monte, Adriana Calcanhoto, Vanessa da Mata, Cássia Eller, Paula Toller, etc. Por isso, quando fui indagada se iria ao show da Flaira Ferro, vi-me perdida no meio do Coliseu vivendo uma encenação de batalhas não baseadas na mitologia clássica, mas no universo musical. Flaira Ferro? Dizem que se você responde uma pergunta com outra pergunta é por que está precisando ganhar tempo para encontrar a ...
As mulheres de O Quinze, de Rachel de Queiroz
Literatura

As mulheres de O Quinze, de Rachel de Queiroz

Luciana Bessa A escritora francesa Simone Beauvoir (1908-1986) em sua obra O Segundo Sexo (1949) propunha que a mulher construísse o seu próprio destino. Para isso, seria necessário romper com os padrões criados pela sociedade patriarcal de que o gênero feminino deveria ser alicerçado na anatomia da “boa esposa”, “boa mãe”, responsável pelo sucesso do “núcleo familiar”. Simone de Beauvoir, que visitou o Brasil na década de 1960 em companhia de Jean Paul-Sartre (1905-1980), inspirou (e continua inspirando) mulheres no mundo todo a partir de suas reflexões sobre a construção social do gênero feminino. Não sei se a escritora brasileira Rachel de Queiroz (1910-2003) leu Beauvoir, porque em várias entrevistas, ela afirmava não ser feminista: “Não sou feminista: acredito no homem e na mulh...
Amélia Beviláqua: mais orgulhosa do que humilhada
Literatura

Amélia Beviláqua: mais orgulhosa do que humilhada

Luciana Bessa Falar de Amélia de Freitas Beviláqua é falar de uma mulher pioneira na luta pelos direitos das mulheres em uma sociedade patriarcalista e misógina como é o caso do Brasil. É lamentável e ultrajante, que em pleno século XXI, muitas percam suas vidas pelas mãos de seus maridos e/ou companheiros. Vanguardista, Amélia Beviláqua, já na escola (São Luís) publicou seus primeiros poemas e contos. No ano de 1889, Proclamação da República, era possível ler seus textos nos periódicos pernambucanos e paulistas – Revista do Brasil. Foi, ainda, redatora do periódico O Lyrio, em Recife, ao lado da amiga Maria Augusta Meire de Vasconcelos, pioneira na luta pelo voto feminino no Brasil, no ano de 1902, o que influenciou na criação do Jornal Borboleta, em Teresina, Piauí. Na década...
A Literatura faz o quê?
Literatura

A Literatura faz o quê?

Luciana Bessa Semana passada, a professora e colunista do Blog Literário: Nordestinados a Ler, Shirley Pinheiro, com os dedos “movidos pelo ódio”, escreveu um texto intitulado “Literatura não faz revolução”? A ira, esse pecado capital tão comum nas histórias literárias, nasceu quando ela escutou de um marxista de “uns vinte e poucos anos nas costas”, que a “Literatura não faz revolução!”. Shirley Pinheiro só não citou todos os literatos e teóricos marxistas (brasileiros, franceses e alemães) que enfatizam o poder revolucionário da literatura, porque além de levar um tempo infindável, ainda assim, não convenceria o tal revolucionário. E, no fim das contas, não se trata de convencer A ou B. Além do mais, devemos lembrar que o ponto de vista do outro não é necessariamente certo. “Pod...
 Caminhando com Micheliny Verunschk
Literatura

 Caminhando com Micheliny Verunschk

Luciana Bessa Publicado em 2023 pela editora Companhia das Letras, Caminhando com os mortos, da escritora pernambucana Micheliny Verunschk, é uma obra forte, marcada por capítulos curtos, não lineares, linguagem fluída e dinâmica, cujas personagens, invisibilizadas e alienadas pelo sistema capitalista, tornam-se presas fáceis para os pregadores da palavra divina. Verunschk, que iniciou sua carreira literária na poesia, Geografia íntima do deserto (2003), tem até o presente momento doze obras publicadas: seis livros de poemas, um de contos e cinco romances, dos quais os últimos dois foram premiados: O som do rugido da onça, 2022, Prêmio Jabuti e Caminhando com os mortos, Prêmio Oceanos, no ano de 2024, um dos mais importantes em Língua Portuguesa. A narrativa analisada, segundo dep...