Tag: Luciana Bessa

A fragilidade dos Laços de Família
Literatura

A fragilidade dos Laços de Família

Luciana Bessa A família, como é sabido, é o primeiro e o principal grupo familiar que nós humanos integramos. É preciso divisar a família que temos e a família que desejamos. Essa instituição, espaço de contradições, conflitos e harmonia, ao longo dos séculos, tem sido defendida pela Igreja, pelo Estado, sobremaneira, por seus membros para manter um status quo social. Para mantê-la intacta já foram cometidas inúmeras atrocidades, na realidade ou na ficção. Na esteira dessa temática, há o livro Laços de Família, publicado em 1960, (Prêmio Jabuti), da escritora Clarice Lispector. Trata-se de uma coletânea de 13 contos (12 narrados em 1ª pessoa e 1, “O Jantar”, narrado em 3ª pessoa). Na concepção de Érico Veríssimo, autor de Olhai os Lírios do Campo (1938), estamos diante do “mais i...
A ausência do celular não produz leitores
Literatura

A ausência do celular não produz leitores

Luciana Bessa Educar é um processo ético e inacabado. O trabalho de um professor vai muito além de “dar aula”. Esse profissional partilha conhecimento, estimula criatividade, a pesquisa, o senso estético do estudante, além de contribuir para o seu crescimento pessoal e profissional.  Uma das grandes dificuldades desse profissional diz respeito ao incentivo da leitura, principalmente em pleno século XXI, em meio a um mundo dominado pelas novas tecnologias. Em 2025, o Governo Federal sancionou a Lei 15.100/25, que proíbe estudantes de usarem telefone celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis em sala de aula, em instituições públicas e privadas, salvo para fins pedagógicos. Trata-se de uma medida importante para mostrar que a escola não é um mero ambiente para expor conteúdo,...
Vai, mulheres! Ser cuidadora na vida
Literatura

Vai, mulheres! Ser cuidadora na vida

Quando o poeta mineiro, autor de Alguma Poesia, nasceu na década de 1930, ficou registrado no Poema de Sete Faces: “Quando Nasci, um anjo torto/desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida”. Ao longo da História, à medida que nasciam, penso que esse mesmo anjo torto (ou um amigo dele, eu não sei), disse: Vai, mulheres! Ser cuidadora na vida. Não satisfeito, o anjo torto, na tentativa de conceber mulheres “perfeitas”, ainda sentenciou: 1) Ficarás restrita ao ambiente doméstico; 2) Não frequentarás os bancos escolares; 3) Serás uma criatura frágil que terá no sexo oposto o seu protetor; 4) Casarás como forma de inserção social; 5) Gerarás filho para manter sua descendência; 6) Cuidarás de tudo e de todos: marido, filhos (filhos dos filhos), parentes, etc. “Quan...
III Coletânea do Nordestinados a Ler
Literatura

III Coletânea do Nordestinados a Ler

Luciana Bessa Nascido há três anos, o Nordestinados a Ler: Blog Literário é uma ferramenta para compartilhar a literatura produzida na região Nordeste, especialmente aquela produzida por mulheres. É sabido que o sexo feminino ficou privado, durantes décadas, de frequentar os bancos acadêmicos o que fomentou a escrita masculina, especialmente de homens brancos e de famílias privilegiadas. As mulheres, ao invés de criadoras de suas narrativas, tornaram-se objetos delas. Durante décadas, viram-se pintadas de bruxas, frágeis, loucas, indolentes, que precisavam de um cavalheiro para serem salvas, por meio do casamento, em uma sociedade cruel e caótica. Mesmo quando as mulheres tiveram acesso à caneta e ao papel, ficaram invisibilizadas pela crítica especializada que não reconheciam/...
Vamos à festa?
Cultura

Vamos à festa?

Luciana Bessa De natureza solitária e melancólica, frequentar festas nunca foi uma opção. O barulho ensurdecedor, o cheiro de bebidas, o jogo de luzes em um ambiente abafado, sempre foram um convite para estar comigo mesma. Em uma sociedade marcada pela violência, a inversão de valores, racismo e a corrida desenfreada para comandar as instâncias de poder, festa, para mim, significava estar ao lado de pessoas que pudessem me desafiar com suas indagações, como é o caso de Clarice Lispector, que me apresentassem a luta de mulheres que eu pouco ou nada sabia, como Conceição Evaristo, ou mesmo, conhecer o amor através de um poeta gauche, Carlos Drummond de Andrade, que na curva dos cinquenta derrapou nesse sentimento.  Mudam-se os tempos, mudam-se as pessoas (aprendi com Camões), ...
Maio, um mês com muitas reflexões e encontros
Cultura

Maio, um mês com muitas reflexões e encontros

Luciana Bessa* Na semana passada, escrevi um texto para essa coluna intitulado: “Maio, um mês com muitas reflexões”, em que abordava o Dia do Trabalhador e destacava o papel de dois trabalhadores em especial: o escritor e as mães. O primeiro, um lapidador de palavras. As segundas, de pessoas. Mas assim como mudam-se os tempos e as vontades, também se mudam os nomes dos textos. Por isso, na condição de autora, vou renomeá-lo: “Maio, um mês com muitas reflexões e encontros”. Justifico. Essa semana fui à Missão Velha acompanhar, de última hora, o projeto “Andanças PET Biblio”, da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Esperava conhecer a Biblioteca Pública do município, mas encontrei algo ainda mais grandioso: o projeto União Popular pela Vida (UPPV), Organização da Sociedade Civil s...
<strong>O poder dos livros infantis</strong>
Literatura

O poder dos livros infantis

Luciana Bessa Muitos são os significados dos livros na minha vida. De acolhimento à libertação de crenças limitantes, esse objeto capaz de ter impresso em seu corpo palavras, constrói pontes, disseca corpos, aflora desejos e une humanos. À princípio, os livros me trouxeram alento, porque na infância eu supunha ser sozinha no mundo. Depois, mostraram-me outros universos paralelos, lá, encontrei outros eu(s). Ao descobrir que não estou (tão) só em uma sociedade que inverte valores, fragmenta sujeitos e apodrece relações, senti-me mais confiante para continuar palmilhando essa estrada pedregosa chamada vida. Os livros, assim como as águas que descem da cachoeira, têm molhado uma existência marcada por (muitos) desencontros e (poucos) encontros. Se a “literatura é uma saúde”, os li...
<strong>A Literatura Fantástica de Murilo Rubião</strong>
Literatura

A Literatura Fantástica de Murilo Rubião

Luciana Bessa O gosto pelas narrativas insólitas é tão antigo quanto a própria humanidade. Mesmo quando o homem não dominava essa técnica, tampouco a escrita, ele possuía a arte de contar histórias e, assim, muitas foram criadas, imaginadas e passadas de geração em geração. Há uma névoa que envolve o surgimento do fantástico, que ao longo dos séculos tem sido enriquecido pelo clima de mistério, de misticismo, pelas criaturas mitológicas, pela ficção científica, sobretudo os estados de espírito do homem que tem se modificado ao longo das décadas. É importante frisar que esse tipo de literatura sempre esteve relacionada aos elementos simbólicos que envolvem o homem e o espaço no qual ele está inserido. O que vem a ser a literatura fantástica? Nesse tipo de texto, ocorre um evento sobre...
O escritor e o público
Literatura

O escritor e o público

Luciana Bessa Para a existência de um texto ou de uma obra literária, pressupõe-se necessariamente alguém, um indivíduo, diante de uma folha em branco, com uma pena na mão, ou em tempos de modernidade líquida, na frente do computador, na tentativa de traduzir, em palavras, o que se passa em seu interior. Eis o escritor. Para isso faz-se necessário que ele ou ela - Clarice Lispector dizia que ao escrever não era homem nem mulher - seja imbuído de competência, domínio da técnica, capacidade imaginativa e criadora, inspiração e talento capazes de produzir obras que atravessem séculos e permanecem imortalizadas no âmago do leitor e do público. Às vezes, eu costumo imaginar os escritores como antigos navegantes indo em busca de aventura em altos mares. Eles se arriscariam no reino das ...
A força da mulher na obra Éramos Seis, de Maria José Dupré
Literatura

A força da mulher na obra Éramos Seis, de Maria José Dupré

Luciana Bessa No início do século XX, poucas mulheres tinham acesso à educação e ao espaço público, pois sendo consideradas seres inferiores estavam em casa servindo ao pai e, depois do casamento, ao marido. Marginalizadas, inferiorizadas, vistas muitas vezes como aberrações, a história das mulheres é marcada pela exclusão, pelo silêncio e pela subalternidade. Ser do sexo feminino era sinônimo de indolência, passividade e obediência às normas sociais. Logo, o cânone literário foi dominado majoritariamente por homens brancos e frutos de uma elite. Sem formação e informação a autoria feminina foi marcada pelo reducionismo. Por isso, é necessário compreender a participação da mulher ao longo da história, seja na condição de criadora, ou como criatura, haja vista que ela era retrat...