Tag: Memória

Nódoa
Literatura

Nódoa

Ludimilla Barreira* Basta fechar os olhos, lembro de quando tinha 11 anos, escondida no topo do pé de seriguela acompanhando os movimentos delicados das mãos do meu avô esfolando o couro do carneiro morto. Aquele bicho preto altivo, que no dia anterior disputava marradas e levantava poeira ao arrastar a pata, agora estava ali, com os olhos esbugalhados e o sangue escorrendo do pescoço na terra que absorvia a vida.  Sem entender a solenidade das ações, acompanhava com admiração e medo enquanto arrancavam a pele e a cabeça do animal, restando o corpo aberto, dividido o peso entre dois galhos. Com os olhos da inocência, achava que ali se encenava apenas um espetáculo pavoroso. Relembrando o momento, percebo que eu não era capaz de imaginar o que enfrentaria no futuro. Hoje, en...
Inter-relações entre memória, história e identidade
Literatura

Inter-relações entre memória, história e identidade

Ludimilla Barreira* Ao realizarmos um percurso entre memória, história e identidade, precisamos considerar fatores como: tempo, espaço e necessidade. Uma vez que, tais fontes podem variar entre interpretações do passado e presente, de quem está no centro ou nas margens, além de, ser manipulada conforme a necessidade do narrador.  Desta feita, percebemos características contrastantes no percurso formativo desses três elementos, como: a maleabilidade ao serem manejados e a possibilidade de rigidez após serem sedimentados com a passagem do tempo. Diante disso, sobre a memória, para além da capacidade de armazenamento de informações, que, atualmente, pode ser desempenhada por dispositivos eletrônicos, desempenha o papel de um acervo que é requisitado pela mente humana para balizar s...
Sobra algo
Literatura

Sobra algo

Alexandre Lucas Acabei de tomar banho e os pensamentos continuam sujos. Sobram dois dedos de vinho, mas já estou embriagada sem beber. Abro a boca, é sono mesmo, quero resistir, mas me faltam forças. A vizinha diz que, se a noite for boa, a manhã será maravilhosa, faz sentido, mas não é uma regra. A outra vizinha diz que o dia de amanhã a Deus pertence, deve ser por isso que o dia de hoje está esse inferno, porque só amanhã será de Deus. Hoje estou flertando com as minhas interrogações. Nada mais. Sem paciência para jogos de cartas, sempre perco. Os dois dedos de vinho estão me esperando, um compromisso que não tenho. Hoje é sábado, exatamente sábado, dia em que o prazer bate pernas e a noite não dorme. Eu, já não faço parte desta paisagem, estou intocada dentro dos meus medos e c...