Nódoa
Ludimilla Barreira*
Basta fechar os olhos, lembro de quando tinha 11 anos, escondida no topo do pé de seriguela acompanhando os movimentos delicados das mãos do meu avô esfolando o couro do carneiro morto. Aquele bicho preto altivo, que no dia anterior disputava marradas e levantava poeira ao arrastar a pata, agora estava ali, com os olhos esbugalhados e o sangue escorrendo do pescoço na terra que absorvia a vida.
Sem entender a solenidade das ações, acompanhava com admiração e medo enquanto arrancavam a pele e a cabeça do animal, restando o corpo aberto, dividido o peso entre dois galhos. Com os olhos da inocência, achava que ali se encenava apenas um espetáculo pavoroso. Relembrando o momento, percebo que eu não era capaz de imaginar o que enfrentaria no futuro. Hoje, en...