Costurado na rede
Alexandre Lucas
Tenho medo do escuro. Quando criança me costuraram dentro de uma rede, gritava, chorava e me faltava ar. Riam, como se fosse uma brincadeira, riam. Brincadeira era me abraçar ao tecido grosso, revirar o corpo e ver o chão, ou então, balançar alto, quase que fazendo da rede uma roda gigante.
Já não me costuram mais. Fico sufocado, temo o escuro e passo horas sozinho, talvez isso seja uma rede sendo costurada pelas minhas mãos.
Queria mesmo era estar brincando com Manoel de Barros, o velho peralta. Chupar manga e pintar a cara de amarelo, depois fazer careta. Beijar loucamente a boca a desejada e ter alguns intervalos para recomeçar. Bater tambor e ver a alegria sambar. Chamar as crianças para pintar os setenta, porque o sete seria pouco. Construir os “Parangolé...