Hillary Siqueira
Era por volta das 5h da manhã; o sol ainda estava escondido. Dava para ver da janela do quarto, os galhos das árvores balançando lentamente. Levantei da minha cama e fui preparar meu café da manhã. O cheiro do café passando pelo coador era tão forte e presente que toda a sala foi tomada pelo delicioso aroma quente. Com a frieza que fazia naquele momento, o cheiro era acolhedor.
Após o café estar pronto, enchi uma xícara generosa e fui até a porta para assistir ao nascer do sol. O clima estava ainda mais frio do que parecia. Sentei no pé da porta e fiquei aguardando. O tempo parecia parado. Levantei e dei cinco passos; senti a grama gelada em meus pés descalços, mas era tão macia que parecia que eu estava caminhando sobre algodões gelados. Essa sensação era únic...

18setNo Comments
Tardes tremidas
Alexandre Lucas*
Cabia na boca os versos tremidos da tarde. Após alguns goles de água, quando a lua dava sinais, era hora da partida. A noite ficava para as lembranças, só a poesia do sol era nossa.
Tapeava teus lábios como quem escreve nas nuvens. O sol germinava de dentro de nós e a tarde seguia em incêndio. Os incêndios são efêmeros como as estações, o inverno não é perene.
Na ponta da língua escrevia bilhetes de fogo, até que um dia fiquei a tarde inteira despido, olhando para o relógio e o sol não apareceu. Guardei dentro do baú uma carta de intensões: lá estava escrito sobre o desejo da suspensão de todas despedidas.
As despedidas são inevitáveis, assim como água molha e o tesão. São três horas e tudo pode acontecer, inclusive faz...

7julNo Comments
Coisas grandes
Alexandre Lucas*
Da varanda que não é minha, enxergo um mundo pequeno. Casas pequenas, pequenos salários, pequenos prazeres, pequenos olhares. Pequeno, até parece nome de menino que não chega aos 15 anos. Vejo meninos pequenos nas ruas pequenas, tendo pequenas descobertas, pequenos sonhos.
Outro dia, vi um homem lavando miúdos, pequenos pedaços de carne, na rua mesmo, no chão que a gente pisa. Ele nem casa pequena possuía, andarilho. Sua carne pequena e a vontade de comer, era o que tinha.
Hoje pela manhã, o pai chamava o filho pequeno, aos gritos: Vai para casa, filho da puta. Vai para casa, filha da puta!
Quase jogo uma pedra da varanda, mas a coragem foi pequena. As palavras ficaram sufocadas. O pai continuou chamando o filho.
Hoje o coração está pequeno como os bil...