Tag:

Como escolher pequi e desatar nós
Literatura

Como escolher pequi e desatar nós

Alexandre Lucas Encontrei vó deitada com a sua face de versos de paciência. Cresci querendo aprender com ela a desatar nós, um trabalho difícil, que exige destruir a velocidade e a agitação, cantarolar nos pensamentos e acompanhar a dança das folhas no sopro do vento.   Vó seguia, atravessando as portas, as salas, os quartos. No final da tarde, sempre dizia que estava quente e fazia café. Enrolava as histórias como quem amaciava as memórias, demorando para dizer como José de Alencar, escritor cansativo para ler.   Não lembro de vó ter me batido, nem com palavras. Tenho lembrança dela me ensinando a escolher pequi: quando o biloto sair facilmente do pequi, no toque do dedo, ele estará maduro. "As laranjas mais lisas, sem a pele mondrugosa, são as melhores", ensi...
Beijo com a delicadeza do bordado de vó
Literatura

Beijo com a delicadeza do bordado de vó

Alexandre Lucas* Passarinho de barro cantado com água, foi presente do meu amor. Guardo junto a outras lembranças, hora e outra coloco água e sopro: a música sai.  É sobre delicadeza que queria navegar. O passarinho de barro está na estante: a delicadeza parece que permanece por lá também.  Tomo café quente neste calor, acrescento canela e olho para o passarinho de barro, ele nem canta nem pisca, fica paradinho na estante. O último beijo no meio da rua tinha a delicadeza do bordado de vó, tinha a esperança do volto já. O passarinho de barro continuava na estante e agora tenho teu beijo guardado por aqui. Abro um livro de olhos fechados, não é possível ler e imaginar não é o suficiente. Imagino o passarinho de barro voando, ele não voa. Tento conversas demoradas com o azu...