
Alexandre Lucas
Chá de canela, alecrim do campo, adoçado com mel.
— Será que tenho roupa para tomar deste chá? — disse a contadora de histórias, bolando de rir.
Enquanto isso, o menino descalço, suado de jogar bola e com a camisa no ombro, encheu o copo de chá, bebeu e quis mais.
O chá era a única bebida da noite. Conversas trocadas aqui e acolá, uma poesia. Quanto mais se bebia, mais o gosto do mel aparecia — estava concentrado no fundo da garrafa.
O chá era o aperitivo do encontro. Quando todos foram para suas casas, a contadora foi narrar histórias em terras de verdes canaviais. O menino descalço já tinha ido dormir sem levar os pés.
O fogo estava aceso. Outra garrafa de chá temperava a noite, cheia de curiosidade e de medo. Os copos de barro acolhiam o chá. O corpo se benzia, temendo ser profano. O chá esquentava a boca, que se deslizava na língua, e parava. Abraçavam-se como quem toca papéis de seda ou sente a textura de teias de aranha.
Depois de Belchior, um blues, uma dança e um tricô de interrogações ocupavam o sofá.
— Já está tarde — despediu-se, deixando o chá com gosto de mel.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.