Alexandre Lucas*
Nos bastidores, a língua vira lâmina. Sexta-feira, semana intensa, programação vasta: vasculho a mais calma e de preferência com poucas pessoas. Cansada das multidões. Todos os convites recusados na mais discreta mentira. Saio só.
Assisto ao espetáculo sobre homem matador. Roubava, estuprava, matava. Ninguém queria ser o homem narrado no espetáculo. Assassino confesso, daqueles que fazem o estrago e contam sorrindo.
Assisti atentamente. Jovem grita da plateia, tenta interagir com o ator. A plateia desconsidera a doença mental do rapaz, insiste no seu silêncio, mas diz acreditar nos direitos humanos. Dói. O jovem tem o seu direito restringido de ser louco. Os normais transgridem a realidade.
O espetáculo não era daqueles monótonos em que se assiste e bate palmas no final mesmo sem ter gostado. O ator, antes de iniciar o espetáculo, narra um romance que teve e diz que nos auge dos seus atos sexuais, ele tinha um ritual com o parceiro: cuspir um no outro.
O espetáculo é finalizado sem palmas. o ato seminu, se deita numa poltrona, quase cama e pede ao público que lhe cuspa. É criada uma fila, aos risos cospem o ator. O homem matador entra em cena e o jovem que queria apenas interagir tampa os olhos.
*Escrevedor