Alexandre Lucas*
Instituir a política do livro, da literatura e da leitura nos municípios é parte estruturante do Sistema Nacional de Cultura e da Política Nacional para o setor que vem sendo retomada pelo Governo Federal. Planejar de forma intersetorial a cadeia produtiva e fruitiva da palavra é essencial para reoxigenar a economia editorial e a ampliação e o reposicionamento do olhar social e crítico.
O segmento da palavra é gigantesco: escritores, revisores, designers, produtores, livreiros, pesquisadores, bibliotecários, roteiristas, contadores de histórias, rappers, slammer, compositores, cordelistas, programadores, ilustradores, empresários, gestores, etc.
Instituir uma política para o setor é democratizar o acesso da palavra como instrumento de construção de uma cultura leitora para as camadas populares historicamente excluída do acesso ao livro e a pluralidade e diversidade de leituras e literaturas.
O acesso à leitura e à literatura deve ser percebida como um direito necessário a vida humana. Essa premissa dever partir da compreensão de que a palavra é uma construção histórica e social que carrega parcialidade e reflete as relações dos seres humanos. A palavra neste sentido re-elabora o pensamento, reproduz e contesta as dimensões da opressão e da exploração.
A hegemonia da palavra tem vinculação com os detentores do poder político e econômico, as grandes editoras, tvs, as Big techs e quem pode pagar para ter acesso. É na contramão desta lógica que se justifica a criação uma política do livro, da literatura e da leitura, ou seja, ampliar em larga escala o acesso para classe trabalhadora. O livro e a fruição da palavra têm de caber dentro do orçamento da cesta básica e da festa do final de semana.
As escolas públicas, por sua vez, devem ser reconhecidas como os principais equipamentos culturais para as filhas e os filhos da classe trabalhadora. Os espaços de leituras nas escolas devem ser tratados com importância para a apropriação dos conhecimentos, das estéticas e das filosofias, não deve ser percebido como depósito de velharias e de profissionais em finais de carreira. Os espaços de leitura ou bibliotecas escolares necessitam dos profissionais da palavra para sacudir o silêncio, a previsibilidade literária e inquietar processos criativos e a leitura da realidade. É o espaço do encontro do clássico e do contemporâneo, do erudito e do coloquial, do hibridismo cultural e da linguagem.
Estabelecer a política de estado para os segmento da palavra, rompendo com a concentração do acesso para os privilegiados e os moradores do céu, as estrelas, se faz necessário como parte da luta pela transformação social em que a palavra é alimento para o mastigamento social, a resistência política e a emancipação humana para classe trabalhadora.
Sobre o autor:
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Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.