Alexandre Lucas
A porta está aberta, nenhum compromisso para hoje. Posso sair e virar a noite abrindo as pernas e assobiando, rindo alto e mapeando estradas desconhecidas. A lua está cheia, mas poderia estar do formato que quisesse. Posso gritar e me embriagar, chegar depois do sol. As pernas conseguem andar o bastante, nem preciso tomar café, sem sono algum.
Hoje, o som das ruas está mais agradável. Desliguei o jazz que sempre acalma, mas infelizmente o repertório estava como uma sopa sem verdura e sal, intolerável. Estou pronto: banhado, cheiro na validade e roupa limpa. Na carteira, tenho o suficiente para esquecer o meu nome e o caminho de casa.
Parece-me que os lugares estão fechados. Vejo pela fresta um redemoinho e uma criança rodopiando sem conseguir se segurar. O vento é tão forte que abafa o pedido de socorro da criança. Do lado de fora parece perigoso. O redemoinho não para: É a porta fechada da rua.
Tranco a porta. Apago a luz, tento dormir, tenho medo de redemoinhos.