Luciana Bessa
Na década de 1980, outro Jabuti com o romance Viva o Povo Brasileiro (84), uma narrativa histórica e literária, de cunho nacionalista com traços de ironia e muito bom-humor sobre a identidade de um Brasil formado por um povo curioso e diverso, que luta para conquistar um discurso uno em torno de questões políticas, literárias, sociais e econômicas, mas que está bem longe de conseguir, principalmente depois desse último desastroso governo.
Ainda em meados dos anos 80, conhecemos O Sorriso do Lagarto (89), também adaptado para a TV. Nessa obra, o mal que aliena e endurece a gente humana é a protagonista da história vivida pelas personagens João Pedroso (biólogo), Ângelo Marcos (político corrupto) e sua esposa Ana Clara (mulher fútil) preocupada apenas com as regalias do casamento até se apaixonar por João. Falta de caráter, de ética, degradação humana, engenharia genética, homossexualidade, o uso de drogas pela elite e o papel da igreja são alguns temas com os quais o leitor precisa lidar.
A força das tramas ubaldianas, marcadas por um engajamento social, esculpidas por meio de uma linguem crítica, forte e irônica, acabam se tornando um convite para o leitor entrar em contato com o mais íntimo da raça humana e seus (podres) valores. “Contra as belas letras, a contrafação, o elitismo” o autor de A Casa dos Budas Ditosos (1999) dizia viver em busca do verbo brasileiro para aguçar a consciência de nós mesmos, brasileiros. E viva João Ubaldo Ribeiro!