CARTA DE FÃ
Shirley Pinheiro
Belchior, te escrevo, enfim, aquela carta de fã, que você esperaria de mim. Sabe, quase que ia te fazendo um poema, mas quem sou eu, mentalidade mediana, para tentar te colocar nas palavras comuns do meu vocabulário limitado.
Por favor, não confunda as coisas, nem vá me chamar de vulgar, mas sob o efeito do teu canto torto feito faca de ponta, te faço sereia e eu, como um Odisseu liberto do mastro, me lanço ao mar das tuas palavras, que são navalhas, como um punhal que corta a carne de quem te ouve.
Meu amigo, há muitos horrores nessa vida, tem veneno em toda a terra, mil fumaças pelo ar. Mas não se assuste com o que lhe direi, isto é somente uma carta de fã, a vida realmente é diferente, ao vivo é muito pior. A nossa gente honesta, boa e comovida, já desistiu de ...